29 de junho de 2025
At 12, 1-11; 2 Tim 4, 6-8. 16-18; Mt 16, 13-19
“Tornaram-se amigos de Deus”
“Estes são os apóstolos que durante a sua vida na terra plantaram a Igreja com o seu sangue. Beberam o cálice do Senhor e tornaram-se amigos de Deus”.
Referimo-nos aos dois grandes apóstolos do Evangelho, as duas colunas angulares da Igreja: Pedro e Paulo cuja festa celebramos neste 13º domingo do tempo comum. O centro da história destas duas testemunhas da fé não está na sua própria destreza, mas no encontro com Cristo que lhes mudou a vida. Fizeram a experiência de um amor que os curou e libertou e, por isso, tornaram-se apóstolos e ministros de libertação para os outros.
1. Recorro àquilo que disse há poucos anos o Papa Francisco: “Pedro, o pescador da Galileia, foi libertado em primeiro lugar da sensação de ser inadequado e da amargura de ter falido, e isso verificou-se graças ao amor incondicional de Jesus. Embora fosse um hábil pescador, várias vezes experimentou, em plena noite, o sabor amargo da derrota por não ter pescado nada e, perante as redes vazias, sentiu a tentação do desânimo; embora fosse um discípulo apaixonado pelo Senhor, continuou a pensar à maneira do mundo, sem conseguir entender e aceitar o significado da Cruz de Cristo; apesar de dizer-se pronto a dar a vida por Ele, bastou sentir-se suspeitado de ser um dos Seus para se atemorizar chegando a negar o Mestre.
2. Mas Jesus amou-o desinteressadamente e apostou nele. Encorajou-o a não desistir, a lançar novamente as redes ao mar, a caminhar sobre as águas, a olhar com coragem para a sua própria fraqueza, a segui-Lo pelo caminho da Cruz, a dar a vida pelos irmãos, a apascentar as suas ovelhas. Libertou-o do medo, dos cálculos baseados apenas nas seguranças humanas, das preocupações mundanas, infundindo nele a coragem de arriscar tudo e a alegria de se sentir pescador de homens. Pedro faz a experiência da Páscoa: o Senhor libertou-o.
3. Também o apóstolo Paulo experimentou a libertação por obra de Cristo. Foi libertado da escravidão mais opressiva, a de si mesmo, e de Saulo – nome do primeiro rei de Israel – tornou-se Paulo, que significa «pequeno». Foi libertado também daquele zelo religioso que o tornara fanático na defesa das tradições recebidas e violento ao perseguir os cristãos. A observância formal da religião e a defesa implacável da tradição, em vez de o abrir ao amor de Deus e dos irmãos, haviam-no endurecido. Foi disto que Deus o libertou; mas não o poupou a tantas fraquezas e dificuldades que tornaram mais fecunda a sua missão evangelizadora: as canseiras do apostolado, a enfermidade física, as violências e perseguições.
Paulo compreendeu assim que «o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte», que tudo podemos n’Ele que nos dá força, que nada poderá jamais separar-nos do seu amor. Por isso, no final da sua vida, como nos dizia a segunda leitura, Paulo pôde dizer: «o Senhor esteve comigo» e «me livrará de todo o mal». Paulo fez a experiência da Páscoa: o Senhor libertou-o.”
4. “A Igreja olha para estes dois gigantes da fé e vê dois Apóstolos que libertaram a força do Evangelho no mundo, só porque antes foram libertados pelo encontro com Cristo..”
“Tocados pelo Senhor, também nós somos libertados. E sempre temos necessidade de ser libertados, porque só uma Igreja que liberta é uma Igreja credível. Como Pedro, somos chamados a ser libertos da sensação da derrota face à nossa pesca por vezes malsucedida; a ser libertos do medo que nos paralisa e torna medrosos, fechando-nos nas nossas seguranças e tirando-nos a coragem da profecia. Como Paulo, somos chamados a ser libertos das hipocrisias da exterioridade; libertos duma observância religiosa que nos torna rígidos e inflexíveis; libertos de vínculos ambíguos com o poder e do medo de ser incompreendidos e atacados.
Sim, todos necessitamos dessa libertação. Quantas correntes, na nossa vida, devem ser quebradas e quantas portas trancadas devem ser abertas! Podemos ser colaboradores desta libertação, mas só se, primeiro, nos deixarmos libertar pela novidade de Jesus e caminharmos na liberdade do Espírito Santo.”
Darci Vilarinho