Encontro de formação IMC em Fátima: “Precisamos de uma espiritualidade do recomeço e não da repetição”

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Os Missionários da Consolata (IMC) a trabalhar em Portugal estiveram reunidos em Fátima esta segunda e terça-feira, 15 e 16 de abril, para o Encontro Anual de Formação. O jornalista Octávio Carmo e o professor universitário Paulo Fontes ajudaram à reflexão. O superior regional IMC Europa também esteve presente.

 

Texto e fotos: Albino Brás

 

O Encontro Anual de Formação Permanente do Grupo IMC Portugal decorreu em Fátima esta segunda e terça feira, 15 e 16 de abril de 2024 

 

O primeiro dia foi dedicado exclusivamente à formação sobre a Igreja numa sociedade em mutação. Para ajudar á reflexão, tivemos dois convidados: Octávio Carmo, jornalista e chefe de redação da Agência Ecclesia, e Paulo Fontes, professor e diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.  

 

O padre Bernard Obiero, conselheiro da Região IMC Europa, representado o Grupo IMC Portugal, organizou e conduziu o encontro.

Octávio Carmo: “a espiritualidade do recomeço”

Octávio Carmo, orador na manhã do dia 15, apresentou o tema «Autonomia e protagonismo, a Igreja sinodal numa sociedade em mutação». Informou logo no início que não iria centrar a sua reflexão tanto sobre o Sínodo, mas sobre a Igreja sinodal, “que é mais que o sínodo”, precisou. 

 

Numa reflexão em que citou muitas vezes o Papa Francisco, começou por sublinhar que a Igreja Sinodal “é uma Igreja que não se vê a si mesma como poder, mas como serviço”. Frisou ainda o compromisso do atual pontífice de construir uma Igreja aberta, não uma “Igreja alfândega”, que coloca condições para que as pessoas entrem. 

 

O jornalista da Ecclesia falou da crise de pertença, e constatou que a maioria das pessoas que procura a Igreja o fazem apenas para serviços religiosos, rejeitando qualquer tipo de “compromisso com a comunidade”. Aproveitou a oportunidade para desafiar os presentes a seguirem a espiritualidade do Papa Francisco, que pede na Igreja uma “espiritualidade do recomeço e não da repetição”. É uma mudança que “pede uma revolução”, vincou, exortando os missionários da Consolata a não perderem “o espírito de profecia” que é tão característica da vida consagrada.

 

Sobre a caminhada do sínodo, o jornalista madeirense e antigo seminarista dehoniano, advertiu que “há muitas pessoas que sentem e sabem que foram escutadas, mas não sabem se vai servir para algo”. O mesmo é dizer, “mais importante que terem sido ouvidas querem que o que disseram possa ter algum impacto, levar a alguma tomada de decisão”. 

 

Entre muitos outros temas, Octávio falou dos modelos de tomada de decisão na Igreja e nas comunidades, do papel da mulher na comunidade e do serviço e ministério da presidência, que, lamenta, “em muitas das nossas comunidades paroquias é entendido como poder e não como serviço”. E consola-o saber que esse tema do serviço tem aparecido de forma continuada no processo sinodal. “O ministério da presidência não é poder, é serviço”, referiu. 

 

Paulo Fontes: “consolar é cuidar”

A parte da tarde esteve a cargo do professor Paulo Fontes, que propôs ler os “sinais dos tempos” a partir de Portugal: desafios da realidade presente. E lançou este convite à reflexão: no quadro de um mundo globalizado, atravessando uma situação de “guerra em pedaços”, numa Europa em reconfiguração, a partir de uma Igreja “em saída”, que desafios identificamos na realidade presente? Como responder-lhes?

 

Fazendo uma ligação ao carisma dos Missionários da Consolata, Fontes começou por dizer que ‘consolar’ é outro modo de dizer ‘cuidar’. E “deve ser assim que vocês, missionários, estão presentes no mundo”, desafiou. 

 

Usando um tom mais académico, Paulo Fontes percorreu várias tendências epocais da história do mundo e da vida da Igreja, citando alguns documentos do Magistério Pontifício, para concluir que “hoje a nossa realidade tem uma densidade muito grande”. E logo acrescentou dizendo que “vivemos numa encruzilhada civilizacional”, identificando em seguida um dos maiores problemas da atualidade, que é a “crise da democracia”. 

 

Paulo Fontes diz que devemos perceber que a Igreja já não é mais o centro de nada. “Antes, as Igrejas estavam no centro, agora são apenas uma parte da organização”. De facto, o orador explica que “pela primeira vez na História da Humanidade nós vivemos num mundo global”, e que a Igreja deve reivindicar o seu papel nesta nova configuração do mundo. E deu o exemplo do impacto que teve a encíclica Laudato Sii, sobre ecologia e cuidado da criação. “A Laudato Sii”, frisou, “tornou-se no documento político mais forte de hoje”. 

 

Para concluir, Paulo fontes precisou que o papel da Igreja “não é anunciar-se a ela própria, mas anunciar o Reino de Deus”. 

 

Informações e partilhas do IMC 

A manhã do segundo dia do encontro, 16 de abril, ficou reservado para informações internas do Instituto, por parte do superior regional, padre Gianni Treglia e do conselheiro regional, padre Bernard Obiero, assim como outras partilhas que os superiores das comunidades e setores do Grupo IMC Portugal quisessem fazer. 

 

Este encontro contou com a presença da quase totalidade dos missionários oriundos das seis comunidades que este Instituto missionário tem atualmente existentes em Portugal: Águas Santas (Maia), Palmeira (Braga), Bairro do Zambujal (Amadora), Cacém, Fátima e Lisboa.

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