60 Anos de Consagração e Missão

(Last Updated On: 31/03/2023)

A nossa vida é marcada essencialmente por três elementos: pessoas, experiências e etapas. Ontem, a nossa comunidade de Águas Santas celebrou uma etapa muito importante na vida e experiência missionária de uma pessoa muito especial: o nosso Pe. Luís Ferraz celebrou 60 anos de consagração sacerdotal e missionária. Para além da presença de vários amigos e benfeitores, tivemos a felicidade de poder contar com alguns familiares que, apesar da distância, fizeram questão de estar presentes nesta ocasião especial

 

Texto e Foto: Álvaro Pacheco

 

Natural de Formigais, Vila Nova de Ourém, nasceu a 22 de julho de 1932: entrou no Instituto Missões Consolata a 18 de outubro de 1951 e emitiu a primeira Profissão religiosa a 2 de outubro de 1957. A ordenação sacerdotal ocorreu a 30 de março de 1963. Missionário em Moçambique desde 1966, começou por trabalhar na diocese de Inhambane a 1 de novembro de 1966, na missão de Mavamba (1966-1967). Em Junho de 1967, foi transferido para a arquidiocese de Lourenço Marques para trabalhar na Paróquia da Matola, onde foi vice-pároco (1967-1971), depois pároco de Boane (1971-1972), novamente vice-pároco em Matola (1973-1975) e pároco a partir de 1975 até 1981. A paróquia de São Gabriel da Matola, criada a 2 de julho de 1951 pelos Missionários da Consolata, é a mãe de grande parte das paróquias da periferia oeste de Maputo. O Padre Luís trabalhou nesta paróquia quase 15 anos. Viveu com coragem o difícil momento da independência, em 1975, quando muitas famílias portuguesas, suas paroquianas, tiveram de regressar a Portugal. Seguiram-se os anos difíceis da revolução marxista-leninista, com as suas inúmeras restrições à liberdade religiosa. Aguentou sozinho esses anos difíceis, apenas com a colaboração das Missionárias da Consolata residentes na Matola.

Por falta de pessoal missionário, em 1981 os missionários da Consolata entregaram a Paróquia da Matola à Arquidiocese de Maputo. O Pe. Luís foi o último missionário da Consolata a trabalhar na paróquia.

 

Seguiu-se um período em Maputo, onde foi superior da Casa Regional dos Missionários da Consolata de 1981 a 1986. Ali desenvolveu uma importante atividade de apoio às missões e missionários da Consolata presentes nas dioceses de Inhambane e Lichinga, que necessitavam de tudo naqueles anos de grande carestia: acolhimento, viagens, compra de materiais e alimentos, etc. Em 1986, regressa à Diocese de Inhambane, desta vez para trabalhar na Paróquia do Guiúa e no Centro Catequético. Com o Pe. André Brevi, reabriu o centro e a paróquia que estavam encerrados desde 1983 por ordem do governo, retomando a formação de famílias de catequistas. Dedicou-se à formação dos catequistas e à cura pastoral das comunidades cristãs da Paróquia de Guiúa. No dia 13 de setembro de 1987, o Centro catequético foi assaltado pela Renamo. Houve rapto de famílias de catequistas e a morte do catequista Peres Manuel: o Pe. Luís permaneceu no Guiúa, apesar da guerra e da violência que reinava naquela zona. A 9 de outubro de 1991, foi transferido para Mambone, como pároco.  Fez comunidade com o Padre Amadeu Marchiol, vivendo também ali num contexto de guerra, com muitos perigos e privações: esteve até 1993, quando foi transferido para Vilanculos, onde permaneceu até 0 ano 2000.

 

A 4 de outubro de 1992, é assinado o Acordo de Paz que coloca fim à guerra civil em Moçambique. Em 1993, Padre Luís foi transferido de Nova Mambone para a paróquia de Vilanculos, sempre na Diocese de Inhambane. Com o Pe. Alceu Agarez, assistiu as inúmeras comunidades das paróquias de Vilanculos, Mapinhane e Maimelane. A 10 de novembro de 1998, foi nomeado pároco de Vilanculos: este foi um período de grande atividade pastoral e de promoção humana, num tempo de pacificação, de reconstrução e consolidação das comunidades cristãs depois da dispersão causada pela guerra. Em 2000, foi transferido para o Seminário de Filosofa da Matola, dos Missionários da Consolata, como colaborador na formação e ecónomo do Seminário, marcando o regresso à cidade da Matola e à arquidiocese do Maputo. Colaborou na formação dos futuros missionários da Consolata e prestou colaboração pastoral às comunidades cristãs da paróquia da Matola, até 2008.

 

O último período da missão do Pe. Luís em terras moçambicanas deu-se entre 2009 e 2015: foi transferido para o seminário médio dos Missionários da Consolata na cidade de Nampula, onde foi ecónomo e colaborador pastoral. Esta etapa constituiu um grande salto para ele: do sul de Moçambique, onde sempre trabalhou, mudou-se para o norte, tendo de lidar com todas as diferenças linguísticas e culturais. Como sempre, o Pe. Luís manifestou também nesta transferência a sua total disponibilidade, espírito de obediência e serviço. Dedicou-se aos trabalhos práticos de manutenção da casa, à formação dos seminaristas e à pastoral na paróquia de Nossa Senhora da Paz.

 

Eis que regressa a Portugal, após 49 anos de paixão e dedicação àquela nação africana, onde viveu os anos de ouro da sua vocação e consagração missionária. Agora, entre nós, mantém a docilidade de espírito e a serenidade que sempre o caracterizaram. Estamos contentes e gratos por tê-lo entre nós, um missionário no verdadeiro e pleno sentido da palavra. E, do alto dos seus 91 anos, mantém um espírito missionário e de família muito apurado, mantendo-se ativo através de pequenas tarefas do quotidiano da comunidade, que realiza com muita dedicação, a mesma que sempre caraterizou a sua entrega a Deus, ao próximo e à missão. Parabéns e um enorme “Bem Haja”, caríssimo Pe. Luís, pelo missionário que foi, que é e que continuará a ser aqui entre nós!