Aos 26 anos Pedro Louro colocou-se totalmente à disposição dos outros. Tornou-se disponível para «partilhar as dificuldades, viver com as pessoas, anunciar o Evangelho e ir em missão», conforme enumerou o próprio em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, esta terça-feira, 8 de agosto, 25 anos depois de se ter tornado sacerdote missionário da Consolata.
Desde então, esteve oito anos em missão em Portugal, 16 anos na Coreia do Sul, de onde só saiu o ano passado, e atualmente encontra-se em Itália. Da sua mais longa e recente missão, o sacerdote de 51 anos de idade, natural de Cardigos, Mação, enaltece os valores daquele povo asiático, mas lamenta as desigualdades sociais existentes e o não vislumbramento de uma solução que possa levar paz à vizinha Coreia do Norte.
Depois de aprender coreano, uma missão «difícil», Pedro Louro passou a viver, juntamente com outros missionários, num bairro de lata localizado nas periferias de Seul. «Vivíamos em comunhão com as pessoas, numa barraca, na mesma situação que elas. Lá celebrávamos a missa, dávamos explicações de inglês, colocávamos espaços à disposição das pessoas, onde voluntários ajudavam crianças e também apoiávamos os idosos.»
O contacto com a população mais velha contribuía para que o português conhecesse mais a história do país, os modos de viver daquela população, de quem guarda muitos momentos marcantes que o deixam sensibilizado. «Uma das nossas vizinhas no bairro vivia apenas com um subsídio de 200 euros por mês. Apesar das várias despesas que tinha de pagar, num país onde a vida não é barata, convidava-nos várias vezes para fazer as refeições em casa dela e uma vez ofereceu-nos 500 euros», contou o missionário comovido, admitindo que o gesto foi daqueles que o mais o sensibilizou na sua vida.
Segundo Pedro Louro, a idosa justificou a oferta dizendo que a presença dos missionários no bairro era uma constante, «com uma porta sempre aberta» aos outros. Mais tarde, num dia chuvoso, o português voltou a comover-se com a atitude de um sul coreano que lhe ofereceu o seu chapéu-de-chuva por ter conhecimento que o destino do missionário era mais longínquo que o seu. «Vivi naquele país uma experiência de simplicidade profunda, de generosidade, com pessoas muito humildes, que também me deram coragem para superar» os desafios, contou.
Tal como no início da sua vida sacerdotal por terras lusas, também na Coreia do Sul Pedro Louro lidou com os mais novos, através do seu trabalho na pastoral juvenil. Os problemas com que se deparou foram muitos e semelhantes aos verificados na Europa e em muitos outros países do mundo: «desemprego jovem, más condições de trabalho, instabilidade profissional, individualismo, desigualdades sociais, pressões sociais, sistema competitivo, depressão, isolamento social e suicídio».
Com pessoas de todas as idades, Pedro Louro procurava escutar e mostrar-lhes outras vias e possibilidades para o caso das frustrações poderem surgir. Foi precisamente isso que fez quando mostrou a uma jovem estudante e à sua família que o chumbo num exame que dá acesso ao ensino superior não poderia condicionar a vida de ninguém. «Este exame não é a tua vida», mostrou o sacerdote à aluna poucos dias antes da prova, na qual esta acabou por chumbar e fazer com que ficasse «dois meses sem sair de casa», situação que acabou por se resolver com o contributo do missionário. «Em contextos como este, a missão é feita de contactos pessoais», explicou.
Para a Coreia do Norte, Pedro Louro olha com uma «grande dor, preocupação e tristeza». O missionário sonha com o dia em que se possam «abrir as portas para que todos se tornem como irmãos que são». Contudo, considera que a «solução pacífica está cada vez mais longe».
Numa altura em que as férias de verão levam tantos jovens rumo a países em desenvolvimento, o sacerdote refere com entusiasmo que «continua a existir atualmente muita gente de boa vontade, com fé, coragem, esperança e de coração aberto aos outros».
Desde setembro do ano passado que o português se encontra a trabalhar em Roma, onde desempenha a função de secretário-geral do Instituto Missionário da Consolata (IMC). «Estou a par de como vai o instituto. As alegrias e as tristezas passam por mim», contou o missionário em tom de brincadeira.
No dia em que comemora as bodas de prata da sua ordenação, o missionário afirma que «a missão é onde se está». Para o futuro, Pedro Louro deseja «estar no IMC e na missão, tendo sempre coragem e a mão estendida para agarrar e ser agarrado». «O meu sonho é ver as pessoas a viver mais humanamente», frisou.
Além de Pedro Louro, também Agostinho Silva, de 52 anos, celebra nesta terça-feira as bodas de prata da sua ordenação. O missionário da Consolata é atualmente o Vice-Superior Regional da Consolata em Portugal, e está inserido na comunidade de Águas Santas, onde trabalha dentro da pastoral missionária. O sacerdote esteve em missão na Venezuela e geriu, ao longo de vários anos, o hotel e a loja dos Missionários da Consolata em Fátima.
Texto Juliana Batista
Foto Ana Paula