Projeto de costura apoia os mais vulneráveis em Portugal e além-fronteiras

Iniciativa desenvolvida por Leigos Missionários da Consolata no Bairro do Zambujal beneficia aquela população em âmbitos muito variados, e ainda reúne fundos para apoiar alunos em países como Moçambique, Guiné-Bissau e Colômbia

Os efeitos das medidas de contenção da covid-19 em Portugal levaram à implementação da arteGENTES, um projeto de costura no Bairro do Zambujal, localizado na periferia de Lisboa. A iniciativa visa contribuir para a  concretização de dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), nomeadamente – a promoção de uma educação de qualidade e a redução das desigualdades.

 

Entre os participantes está Maria Horta, de 52 anos. “Com este projeto de costura tenho aprendido muito, para eu, em casa, arranjar as minhas coisas e ensinar as minhas filhas também”. Para Herculano Tavares, de 65 anos, a iniciativa representa um impacto muito positivo em vários âmbitos da sua vida. “É importante porque, primeiro que tudo, gosto muito, e como não posso trabalhar devido a problemas de saúde, é uma forma de estar entretido e não estar sempre só a ver televisão”, explicou aos promotores do projeto.

 

Peças em capulana
A equipa que está a coordenar a iniciativa é constituída por Cláudia Leal, Diana Antunes, Ketta Linhares, Cristina Leal e Eunice Antunes, todas elas Leigas Missionárias da Consolata (LMC). A arteGENTES é, aliás, um dos projetos da Ad Gentes – Associação Leigos Missionários da Consolata, que desta forma “pretende valorizar o papel da mulher na sociedade, oferecer formação sobre a confeção de produtos e promover a costura como sendo um trabalho artesanal elaborado em Portugal”.

 

A equipa coordenadora desta ação explica que o projeto “iniciou com a planificação de aulas de costura, partindo do pressuposto que alguns dos participantes pudessem nunca ter costurado”. Por isso, os “primeiros produtos já realizados são os mais simples”, e consistem em “sacos de pano, seguindo-se porta-moedas, estojos diversos e malas de praia”. As primeiras peças “são feitas de capulanas vindas de Moçambique”, panos tradicionalmente usados pelas mulheres para fazer de saia, cobrir o tronco, carregar os seus filhos nas costas, e até servir como toalha, cortina ou pano de mesa, por exemplo.

 

Mais de dez pessoas envolvidas
Desde o seu arranque, a iniciativa conta com o contributo de “um costureiro muito assíduo, e de vários voluntários, com conhecimento sólido na área da costura, que apoiam e esclarecem as dúvidas que vão surgindo aos 11 participantes”, explicam as promotoras do projeto, em declarações prestadas à FÁTIMA MISSIONÁRIA, adiantando que “todos os produtos serão vendidos com uma etiqueta com a descrição do projeto e a indicação do artesão que a realizou”.

 

Além de beneficiar cada participante de forma individual, a iniciativa tem repercussões além-fronteiras. A quantia reunida através da venda destes produtos reverte para a COMUZA – Comunidade de Mulheres do Zambujal, um grupo formado por mulheres de vários pontos de Portugal e de diferentes regiões do globo, e também para o “Estuda lá”, um projeto levado a cabo pela Ad Gentes – Associação Leigos Missionários da Consolata, que promove o apadrinhamento de alunos em Moçambique, na Guiné-Bissau e na Colômbia.

 

Como tudo começou
A arteGENTES nasceu em 2010, perante a “necessidade de ajudar um grupo de homens e mulheres costureiros do Centro de Promoção Humana do Guiúa”, localizado na região sul de Moçambique, em parceria com o Instituto Missionário da Consolata em Moçambique, e que chegou ao fim em 2020. Atualmente, os elementos do Centro de Promoção do Guiúa “encontram-se empregados no ofício da costura nas suas zonas de residência”.

 

O “sucesso” destes “dez anos no Guiúa” são a inspiração para a concretização desta iniciativa no Bairro do Zambujal “durante um ano, em parceria com a Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata e com o CAZAmbujal – Associação Recreativa”. A equipa arteGENTES realça que o projeto decorre atualmente no Centro Consolação e Vida (CCV), em “duas horas de sábado”, as quais “são sempre uma azáfama, mas momentos muito gratificantes”.

Texto: Juliana Batista