Umas têm que fazer 25 quilómetros a pé para frequentar as aulas, outras 10 e outras oito. No percurso, estão expostas a ataques de animais selvagens, violadores e sequestradores, que as usam em rituais de feitiçaria. Se sobreviverem a estes perigos, chegam a casa e não têm eletricidade para estudar, nem apoio familiar, porque a educação ainda é encarada como uma coisa só para homens. Parece ficção em pleno século XXI, mas é a dura realidade das meninas e adolescentes na região de Mgongo, na Tanzânia.
Dormitório pode evitar que centenas de meninas deixem a escola
«A criança do sexo feminino é vista como uma fonte de rendimento, porque vai crescer e depois casar noutra família e não será benéfica para a sua família biológica. Assim, os seus deveres são cozinhar e cuidar dos maridos e não a educação», explica o padre Vitalis Oyolo, missionário da Consolata a trabalhar na Tanzânia.
Num esforço para contrariar esta discriminação de género, tão enraizada culturalmente, os missionários têm tentado sensibilizar as famílias para a importância da educação, quer dos rapazes quer das raparigas. Porém, enfrentam um outro problema: como as escolas ficam a grandes distâncias e não há transportes, a segurança das meninas não está assegurada. «Há histórias de meninas violadas e de algumas que engravidaram ou foram infetadas com o vírus HIV durante os ataques e isso desencoraja os pais a deixá-las ir à escola», relata o sacerdote.
Como se isso não bastasse, as jovens ficam ainda à mercê dos ataques de animais selvagens, ou de sequestradores que usam os corpos para rituais de feitiçaria – «algumas pessoas acreditam que quando se rapta uma virgem com idades entre os oito e 11 anos, vai aumentar a sua fortuna».
É para evitar esta exposição a tantos perigos que os missionários pretendem construir um dormitório, com capacidade para acolher mais de uma centena de meninas, e proporcionar-lhes um ambiente seguro e tranquilo para prosseguirem com os estudos.
Para ajudar à construção desta infraestrutura, os Missionários da Consolata em Portugal decidiram dedicar o seu projeto anual a esta causa, através de uma campanha de angariação de fundos a que deram o nome «Aprender em segurança», e que vai decorrer durante todo o ano de 2019.
«Ao escolher este projeto queremos manifestar a nossa comunhão, não só espiritual, mas também material, com os nossos missionários e com os fiéis e as comunidades cristãs que, através deles, receberam o anúncio do Evangelho ao longo destes 100 anos», já que no próximo ano a Consolata comemora o primeiro centenário de presença na Tanzânia, justifica o Superior Provincial dos Missionários da Consolata em Portugal, padre Eugénio Butti.