Todos os sinais apontavam para algo de especial a acontecer no Bairro do Zambujal, no concelho da Amadora. Por fora, a decoração denunciava os festejos. Na rua Mães D´Água estava tudo montado – palco, tendas, mesas, cadeiras – para a missa, seguida de almoço e da tarde cultural e recreativa. Era a festa de São José Operário, padroeiro da comunidade cristã católica do Centro Consolação e Vida (CCV).
Regina Gonçalves, integrante da Comunidade das Mulheres do Zambujal (COMUZA), mora neste bairro desde 1970, tem cinco filhos e não cabia em si de contente. «Levo o ano todo a contar os meses que faltam para esta festa, este é o dia mais importante para mim», confessou. «É uma festa que fazemos com amor, com alegria, de coração». E trabalho não lhe falta. Regina estava na organização do almoço, mas também no grupo de batucadeiras que iria atuar mais tarde no palco montado para o efeito.
Os motivos para a celebração – apontava o padre José Matias, responsável do CCV, logo na introdução à Eucaristia da festa – eram mais que muitos: além da celebração do padroeiro da comunidade e o facto de estar ali um bispo, Joaquim Mendes, a presidir à festa, a liturgia da Igreja celebrava neste quarto domingo da Páscoa o Dia do Bom Pastor e o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Agradecia-se também pelos oito jovens e adultos da comunidade que no dia anterior tinham recebido o sacramento do Crisma na paróquia da Buraca e, nesta celebração iriam receber das mãos do bispo o respetivo certificado. Para rematar, comemorava-se o dia das mães.
Numa celebração bem preparada, e com detalhes como aquele em que duas famílias foram ler a primeira e a segunda leituras, para lembrar o papel central da família na vida da Igreja e da sociedade, o coro entoou músicas em várias línguas, lembrando a diversidade das etnias presentes no bairro e a vertente missionária da pastoral ali realizada pelos missionários e missionárias da Consolata, desde 2003, quando se deu início à sua presença e missão no Zambujal. A dança dos jovens na entronização da palavra e no ofertório deram um toque especial à celebração, assim como a homenagem das crianças da catequese às mães ali presentes.
As palavras que Joaquim Mendes dirigiu à assembleia na homilia da Missa ecoou no coração da comunidade. O bispo auxiliar de Lisboa e responsável no Patriarcado pela Vigararia da Amadora, à qual pertence esta comunidade, desafiou os presentes a imitarem São José, em três atitudes que o caracterizam. A primeira, é a escuta: «Quem quer o que Deus quer tem tudo quanto quer», disse, citando São Francisco de Sales. E acrescentou: «Quando nós, como São José, aceitamos confiadamente aquilo que Deus quer, nós somos felizes». A segunda – prosseguiu – é o serviço: «São José era um trabalhador, operário. Ele ensina-nos a viver a vida como um serviço». A terceira, é o silêncio: «São José ensina-nos o valor do silêncio, da interioridade, de uma vida de união com Deus», concluiu. Ao terminar a celebração, o prelado confessou: «tive muito gosto em estar aqui», e aproveitou para agradecer a presença dos missionários da Consolata no Bairro do Zambujal.
Era chegada a hora do almoço. A sala principal do CCV tinha-se transformado numa cozinha improvisada, com enormes panelas contendo feijoada, arroz e a famosa cachupa que faz as delícias de muitos dos que acorrem a esta festa e ainda não conheciam o prato tipicamente cabo-verdiano. A refeição era oferecida pela comunidade. «Há comida para todos!», anunciava alto e bom som o padre José Matias, no final da Eucaristia. E havia! E sobrou! O Evangelho feito comunidade em bairro de gente simples, que conhece o dom e o valor da partilha e, além disso, sabe receber bem.
As batucadeiras? Sim, já falei antes delas, mas agora para acrescentar que suaram no palco com o som que saía das suas mãos em pancadas de batuque de ritmo frenético, e que ecoava pelas ruas do bairro. E com elas muitos outros talentos animaram a tarde de centenas de pessoas que ali acorreram para celebrar a vida e a fé.
Albino Brás