O Natal e a Família

Uma reflexão sobre o conceito que temos de família e de como Jesus abre os horizontes do modelo de família nuclear, biológica, para aquela que nasce à volta da Palavra de Deus. É uma nova família que nasce no, e do Natal; pela Encarnação de Deus na nossa História.

Assistimos nos últimos tempos a uma transformação acelerada nos modelos de família, surgindo novas dinâmicas familiares e de relação que se estabelecem no seu interior.

Nos dicionários o termo família designa, em sentido estrito, o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo teto, ligadas por laços de parentesco, de afeto, de aliança. Já em sentido lato, esse conceito é tão elástico que se usa para designar, por exemplo, a ‘família Consolata’ ou a ‘família benfiquista’.

Para os cristãos, o conceito família é ampliado nos seus horizontes de forma inaudita. Jesus abriu o leque desse conceito, indo mais além dos laços de sangue. É irónico comprovar que Ele mesmo viveu a incompreensão da sua própria família, que chegou até a considerá-lo louco. Quando no Evangelho Jesus diz: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, não tinha a intenção de negar os vínculos de parentesco natural, mas alargar o sentido de pertença à Sua família.

Para Ele, o que vai definir o verdadeiro sentido de família é a escuta e a prática da Palavra de Deus. O critério para pertencer à Sua família deixa de ser o sanguíneo e passa a ser o espiritual, fazer a vontade de Deus. A família cristã é, deste modo, uma família ampliada, de portas abertas.
São João Paulo II definiu, com sábia inspiração, a família como “santuário da vida” e “célula fundamental da sociedade humana”.

‘Natal é família’; ‘passar o Natal em família’, são expressões muito usadas no período natalício. A realidade diz-nos que o Natal deixa os sentimentos de afeto, de carinho, – mas também os de solidão e abandono -, à flor da pele. O pequeno núcleo familiar não deveria isolar-se da família ampliada. Se nos fechamos na nossa família natural, de sangue, podemos ficar indiferentes ao outro social. E o mundo precisa urgentemente de rehumanização.

Deus encarnou, ‘humanou-se’, abraçando uma família bem maior (a humanidade) e convida-nos a ampliar os laços de relação, com atenção especial aos mais necessitados de cuidado: os sem família e sem-abrigo, os pobres, os doentes, as crianças fragilizadas.

Jesus funda uma nova família para uma humanidade nova. E talvez seja por isso que Natal rima com família espiritual.

Albino Brás