Ana Correia tem 37 anos, é natural do Porto, e trabalha desde 2019 como assistente social na Fundação Allamano (FA), uma instituição que apoia jovens refugiados em Portugal. Em entrevista, a responsável dá conta dos desafios da sua atividade
Como é que surgiu o projeto de acolhimento e integração de refugiados?
Após uma grande alteração na FA, sentimos a necessidade de um novo rumo, que dignificasse a FA e o Instituto Missionário da Consolata, e que ao mesmo tempo fosse transformador na vida de quem iríamos apoiar. Uns meses antes tivemos uma pequena experiência com o acolhimento de refugiados – durante algumas semanas demos alojamento e assegurámos refeições a cerca de 50 pessoas, mas sem qualquer intervenção social, o que deu para perceber que era uma área onde podíamos atuar e fazer a diferença. A nova direção da FA contactou o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e propôs este projeto que prontamente foi aceite pelo conselho de administração da fundação.
Quais eram as expectativas iniciais? E que receios?
As expectativas e receios eram muitos, ainda mais porque íamos começar o acolhimento em fevereiro de 2021 e, devido à pandemia da covid-19, tivemos muitos meses a aguardar a chegada dos primeiros rapazes refugiados. Isso causou uma ansiedade enorme em toda a equipa. Mas hoje posso dizer que as expectativas e os receios foram amplamente superados. Somos uma equipa unida, focada e que gosta muito do que faz, e isso reflete-se no percurso que temos feito.
Enquanto mulher, sentiste maiores dificuldades no diálogo com os rapazes, um tratamento diferente? Como é a relação com eles?
Inicialmente esse era um dos meus principais receios – ‘Como iria desenvolver a relação de confiança com eles? Será que me vão respeitar? Vão perceber as diferenças culturais? E eu? Será que me vou saber adaptar e dar o melhor enquanto profissional?’ – Hoje olho para trás e percebo que quando queremos muito uma coisa, moldamo-nos, adaptamo-nos e tentamos ser melhores a cada dia. Essa plasticidade é mútua e a minha relação com todos os rapazes refugiados é rica em aprendizagem e recíproca na vontade de querermos muito ajudarmo-nos. Não podia ser mais agradecida por trabalhar neste projeto que muito me orgulha.
Residem em Águas Santas 26 requerentes de asilo, mas a Fundação Allamano tem outras valências. Quais são os desafios para o próximo ano?
A FA tem ainda um outro projeto de apoio a famílias carenciadas, onde apoiamos já um número considerável de agregados familiares com um cabaz de alimentos mensal. Vamos retomar também um projeto de Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), que após uma nova análise e considerável restruturação sentimos que estamos preparados para avançar. Por isso, 2022 promete ser um ano de muito trabalho, dedicação e crescimento.
Texto e foto: José Miranda