O missionário da Consolata italiano, de 46 anos, foi ordenado sacerdote em 2001, e trabalha na Mongólia desde 2003
Como foi a sua reação logo depois da nomeação?
A nomeação chegou de improviso, comunicada (como é de protocolo) pelo Núncio Apostólico poucos dias antes de ser anunciada publicamente. Inicialmente não queria acreditar, mas quis acolhê-la com espírito de fé. Humanamente falando, criou em mim muita apreensão e até uma certa confusão, mas foi o próprio Núncio que me convidou a ler este acontecimento como manifestação da vontade de Deus.
Está na Mongólia há mais de 15 anos, por isso, conhece bem a realidade. Quais são os seus sonhos para esta nova missão?
Encontro-me na Mongólia desde 2003 e considero isso uma graça. Como missionários da Consolata, nascemos e existimos na Igreja para a missão “ad gentes”: para tornar possível o encontro com Cristo a povos e culturas que por várias razões nunca se confrontaram com o Evangelho. Estar na Mongólia como missionário da Consolata (e agora como Prefeito Apostólico) é uma honra, porque me faz sentir no sítio certo. É um caminho que é sempre novo, porque exige empenho e disponibilidade a deixar-se provocar por uma realidade muito diversa daquela a que nos habituámos, e desejo de deixar-se guiar pelo Espírito por caminhos frequentemente ainda não traçados. Penso que uma prioridade da nova missão que me é confiada será cuidar seriamente do caminho de fé destas pessoas que provêm de tradições religiosas diversas e precisam de construir e reforçar a própria identidade cristã. O facto de serem uma pequena minoria católica requer um empenho multidirecional, orientado para as várias componentes da sociedade, de modo que a Igreja seja reconhecida por aquilo que é e se fortaleçam os laços de respeito e colaboração entre todos.
Quais são as atividades principais que os padres e as irmãs da Consolata têm desenvolvido durante estes anos de presença na Mongólia?
Os missionários estão na capital, em Arvaiheer e em Kharkhorin, na região do Uvurkhangai. A missão da Consolata orientou-se desde o início por três objetivos principais: o primeiro anúncio, a presença de consolação no meio dos pobres e o diálogo inter-religioso. No centro deste caminho, está a intensidade espiritual da qual se nutre o nosso serviço (a oração como caminho de evangelização). Em Arvaiheer somos a primeira e única presença da Igreja, com uma pequena comunidade composta por cristãos da primeira geração e levamos para a frente alguns projetos de promoção humana. Em Kharkhorin (que se encontra na mesma região de Arvaiheer), iniciámos um pequeno centro de diálogo inter-religioso e de pesquisa cultural, com temas ligados ao território. Em Ulaanbaatar, seguimos os primeiros passos de uma inserção na grande periferia urbana e disponíveis para serviços pedidos pela Prefeitura Apostólica.
Vivemos em plena crise causada pela Covid-19. Quais são as medidas tomadas pelo governo para controlar os poucos casos que se registam na Mongólia?
A Mongólia encontra-se numa certa serenidade: as condições de grande isolamento natural e a exígua população tornaram mais fácil a intervenção das autoridades locais, que em todo o caso têm sido extremamente eficazes. No mês de janeiro, decidiram encerrar as fronteiras e exigir o distanciamento social, medidas que estão ainda em vigor. Mas as atividades ordinárias foram retomadas gradualmente. Os primeiros poucos casos de contágio provieram do estrangeiro e foram prontamente isolados. Portanto, a vida prossegue, com a obrigação de usar a máscara, sempre e em toda a parte. Desagrada-nos o longo “jejum litúrgico” que estas restrições nos impõem; as nossas pequenas e dispersas comunidades cristãs sentem muito a falta da Eucaristia celebrada em assembleia, mas estão também conscientes do sentido de responsabilidade que devem demonstrar para com o resto do país. Procuramos ir ao encontro desta dificuldade encorajando a oração em família, que já pertence à sensibilidade religiosa deste povo, e propondo programas de crescimento espiritual através das redes sociais.
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A Mongólia é o grande estado da Ásia centro-oriental que se estende entre a Federação Russa e a China. É cinco vezes maior do que a Itália, povoada apenas por três milhões e meio de habitantes, dos quais quase metade reside na capital, Ulaanbaatar, e o resto espalhado pelos imensos espaços do planalto mongol, com várias tipologias de território: estepe, tundra, zonas montanhosas e o deserto do Gobi. Culturalmente, os mongóis constituem um povo muito compacto, que construiu a própria identidade sobretudo a partir do grande conquistador Gengis Khan, que no início do século XII unificou os grupos nómadas contíguos e fez deles uma nação, chegando em pouco tempo a subjugar praticamente toda a Eurásia (do Mar da China ao Adriático).
Padre Bernard Obiero, imc