Atualmente ouvimos falar muito de afetos, de coração, de gramática do amor… Sabemos que na Bíblia o coração é a sede dos afetos e dos sentimentos que brotam do interior do ser humano: amor, desejo, alegria, tristeza, irritação, coragem, medo, confiança, orgulho, inteligência, imaginação, memória. Lucas afirma, por exemplo, que Maria conservava todas estas coisas (acontecimentos, palavras) em seu coração (Lc 2,19), meditando-as e refletindo-as com o intuito de as compreender.
É precisamente essa vontade de compreender a Missão não tanto a nível territorial, mas relacional que em pleno Centenário das Aparições, escolhemos como tema para as Jornadas Missionárias, 16 e 17 de Setembro, Missão do Coração ao Coração, Do Coração de Maria ao coração de todos.
O tema já não é novo. Ele é retirado da carta pastoral: “’Como eu vos fiz, fazei vós também’. Para um rosto missionário da Igreja em Portugal” que, citando o papa Bento XVI, diz: “…a Missão não se baseia em ideias nem em territórios, mas parte do coração e dirige-se ao coração, uma vez que são os corações os verdadeiros destinatários da atividade missionária do Povo de Deus”.
A missão é da ordem de um amor de proximidade que imprime um certo estilo de relação. É um apelo a um trabalho relacional cuja proximidade salva do anonimato, da indiferença, da insipidez.
Viver a missão à maneira de um coração que se faz próximo é ser “uma esperança real e realizável no estado de vida de cada um”, é cultivar a arte do encontro e deixar-se maravilhar por todos os que se cruzam no nosso caminho. É consentir tornar-se “reveladores” d’Aquele que nos habita.
Contam que os astronautas quando contemplam a terra desde o espaço, durante a primeira semana só olham para o seu próprio país. Durante a segunda semana identificam-se com o seu continente e a partir da terceira semana, sentem que pertencem a um único planeta. Parece que o coração se alarga à medida do universo!
Esta é a nossa missão: Perceber que o coração se alarga quando o abrimos às perspetivas fraternais e universais. Quando nos fazemos disponíveis não da ordem da quantidade dos encontros, mas da intensidade de cada instante com um coração hospitaleiro e acolhedor. O contrário é o cansaço interior, o arrastar-se de má vontade, com ar de tristeza e de resignação.
Nas Jornadas Missionárias queremos que a Missão do Coração ao Coração favoreça o saborear e o conservar todas estas palavras (Lc 8,8.15) para que o encontro seja possível e a missão seja não da “ordem do tem que ser…” mas da paixão e do ardor que nos faz descobrir “o rosto jovem e belo da Igreja que resplandece quando é missionária”.
Padre António Lopes, SVD
Diretor Nacional OMP