Is 9, 1-6; Tit 2, 11-14; Lc 2, 1-14
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. É o canto dos anjos nessa noite abençoada em que o Céu baixou à terra. Abre-se o Céu e nessa liturgia celeste dá-se o primeiro anúncio de um mistério que se irá pouco a pouco revelar. Correm os pastores, primeiros missionários dessa notícia que o mundo abalou. Vêem, acreditam, contemplam e adoram. Depois anunciam aos outros o que viram e acreditaram. É em miniatura a dinâmica missionária da Igreja, que anuncia o mistério divino entre os homens, portador de paz e glorificador de Deus.
Abençoada terra que recebeste a visita do Filho de Deus. O teu Deus é um Deus que entra na tua casa. Não ficou na periferia do mundo ou da história, mas entrou na realidade carnal da tua vida. O Deus que tudo abrange, e no qual vivemos e existimos, escolheu a terra para sua morada. Essa terra que devemos amar e respeitar. Poderemos nós manchar ou destruir a morada de Deus no meio de nós? E se Deus amou de tal modo esta nossa humanidade que lhe deu o próprio Filho, não devemos nós amar-nos uns aos outros partilhando o que nos for concedido? Só o amor feito dádiva pode transformar o nosso planeta incutindo nas mentes e corações pensamentos e gestos de fraternidade e de paz.
“Glória a Deus”, cantam os anjos, porque dele tudo parte e para Ele tudo volta. Glória a Deus, criador e redentor, que na sua imensa bondade se dignou olhar para a nossa terra. Dar glória a Deus, é a primeira mensagem que o mundo recebe. Dá glória a Deus quem vive na sua presença. Dá glória a Deus quem faz a sua vontade. Dá glória a Deus quem ama o seu semelhante. Dá glória a Deus quem no mundo constrói a sua paz.
“Paz na terra aos homens por Ele amados”. Sim, porque o amor de Deus pela humanidade é a primeira semente de paz. Quem se sente amado por Deus não sabe viver sem a sua paz. E quem acolhe o amor de Deus no seu coração torna-se difusor dessa paz. Porque se tornou morada de Deus, a terra não pode ser feliz sem esta paz. Angústias e solidões, guerras e violências são fruto da falta de Deus, que é portador de paz.
Junta-se neste mistério a liturgia do Céu com a liturgia da terra. Restaura-se com Cristo a relação entre Deus e o homem, a única que traz segurança e felicidade. Não há caminho de felicidade que não passe pela glória de Deus e pela paz entre os homens. Onde Deus for honrado e glorificado, aí será honrado também o homem. Onde o homem for respeitado, aí mesmo se respeita Deus. “A glória de Deus é o homem vivente”.
É então necessário e urgente que os anjos tornem a cantar. Que nos convidem a dar glória a Deus, se queremos paz na terra. Que nos estimulem a construir a paz para que Deus seja por todos glorificado. Ninguém poderá fazer calar essas vozes do céu lançadas sobre a terra. É necessário que cada um de nós se torne por toda a parte “anjo” anunciador dessa bela notícia que é Deus no meio de nós. É necessário que todos voltemos a cantar, pelos caminhos do mundo, até sufocar os rumores da guerra ou da injustiça no canto da paz. É necessário que nos tornemos como os pastores anunciadores da alegria com que Deus inundou a terra e a difundamos nas famílias divididas, nos adolescentes abusados, nos jovens desnorteados, nos trabalhadores explorados e em todos os recantos da terra.
Seja cada um de nós essa “gruta aberta” onde Maria possa dar à luz o seu Filho para o depor na manjedoura do nosso coração. Poderemos então unir as nossas vozes às vozes dos anjos de Belém para em uníssono fazermos deste mundo um concerto de paz.
Para todos Feliz Natal!
Darci Vilarinho