Jr 17, 5-8; 1Cor 15, 12-20; Lc 6, 17-26
Todos procuram a felicidade. De facto, nascemos para ser felizes. Deus assim o quer, mas nem todos encontram a estrada para lá chegar. Há quem a procure nas riquezas, no sucesso, numa bonita carreira ou no prazer. Esta é a lógica do mundo, mas o Evangelho diz-nos que por aí não vamos lá. Cristo propõe uma nova hierarquia de valores onde os pobres são ricos e os que choram serão consolados. Feliz daquele que põe a sua esperança no Senhor, diz a liturgia deste Domingo. Felizes os pobres, os esquecidos, os perseguidos. É difícil entender uma linguagem destas, mas é mesmo assim. Jesus acrescenta: Felizes os artesãos da paz, os que promovem uma verdadeira justiça, os que semeiam a concórdia. Felizes os que promovem a vida, os limpos de coração e os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Todos estes verão a Deus, origem e termo de toda a felicidade.
Porque é que estes são os felizes, já nesta terra? Porque possuem as características fundamentais para possuir o reino de Deus. Jesus sabe que os pobres, os que têm fome, os que choram, os que sofrem perseguição, conhecem a fragilidade da vida, confiam mais em Deus do que em si próprios, sentem a necessidade de ser libertados do pecado e da morte, estão dispostos a ajudar-se mutuamente e esperam a ajuda e a salvação que vem de Deus.
Todas as bem-aventuranças apresentadas por S. Lucas se resumem na primeira, que eleva os pobres. A pobreza de que fala Jesus é a opção pelo Reino de Deus, a decisão de deixar tudo para seguir os passos de Jesus com um coração livre e disponível a deixar-se renovar por Deus.
Depois Jesus pronuncia quatro severos “Ai de vós!”. É como se dissesse: “Tenho pena de vós!”. Tenho pena de vós, os ricos, que já viveis saciados, que rides e viveis nos prazeres deste mundo, que procurais ser louvados e elogiados por todos.
Quem são os ricos do Evangelho? São aqueles que pensam que já têm tudo, que nada esperam de Deus porque não lhes faz falta. Porque vivem amarrados ao seu egoísmo, Jesus considera-os pessoas falidas nesta vida. Porque, a viver assim, nunca sentirão a alegria de ser filhos de Deus, de viver como irmãos e de se sacrificar pelos outros.
As bem-aventuranças – diz o Catecismo da Igreja Católica – colocam-nos diante de escolhas morais decisivas. Convidam-nos a purificar o nosso coração dos enganos deste mundo e a procurar o amor de Deus acima de tudo. Ensinam-nos que a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana, por mais útil que seja, mas apenas em Deus, fonte de todo bem e de todo amor.
O Abbé Pierre, uma lúcida consciência cristã do nosso tempo, afirmou: “Esta sociedade, pelo menos a sociedade ocidental, está satanizada pelo consumismo e pela idolatria do dinheiro. É uma sociedade condenada. O escândalo das desigualdades emerge em toda a sua crueza de um ao outro lado do planeta. Qual o remédio? Reencontrar o espírito das bem-aventuranças, ancorar-se aos valores que elas proclamam, inspirar nelas os nossos comportamentos. Diria que seria preciso fazer das bem-aventuranças o nosso guia moral. O reino de Deus já começa aqui na terra. Basta procurá-lo”.
Será preciso então acolher com fé as palavras de Deus trazidas por Jesus e saborear as verdades profundas que elas encerram.
Darci Vilarinho