Liturgia do 4º Domingo de Advento – Ano A

(Last Updated On: 26/05/2021)
Sintonizar-se com Deus

Is 7, 10-14; Rom 1, 1-7; Mat 1, 18-24

Estamos a poucos dias do Natal. Os presépios estão montados, as cidades iluminadas. Talvez haja também muita azáfama e agitação, talvez para esquecer as crises e a austeridade dos últimos anos.
Olhando para tudo o que se passa à nossa volta, onde é que eu me coloco? Sou capaz de entrar no presépio ou sou um mero espectador, que de fora observa, mas não vive? Com qual das personagens me identifico? O que é me pede a Palavra de Deus deste Domingo?

A grande personagem deste Domingo é São José. É-nos apresentado o nascimento de Jesus do ponto de vista de José que, perante a gravidez humanamente inexplicável de Maria, está a pensar desfazer o compromisso assumido com ela perante a lei e mandá-la para a sua casa. É um homem justo, poderia seguir a lei que manda denunciar estas situações. Mas, para não causar dano a Maria, decide repudiá-la em segredo. É aqui que entra Deus através do seu anjo que revela a José a fonte de tudo aquilo que aconteceu com Nossa Senhora. O que se gerou dentro dela não vem dos homens, mas vem de Deus. É fruto do Espírito Santo. Esse filho, que não é teu, é o Salvador do mundo. Chamar-lhe-ás Jesus (que quer dizer Deus salva). Por isso não temas, não tenhas receio. Não tenhas medo de lançar-te dentro desta história, porque é sagrada, é Deus que a conduz.

Não tenhas medo! Por 366 vezes se repete na Bíblia esta expressão. Uma para cada dia do ano, incluindo os bissextos. Foi dita a Moisés e a outros profetas. Foi dita ao povo, foi dita a Zacarias, a Maria, e agora a José. É dita e redita também a nós, neste tempo e na situação em que cada um vive. Não temas. Deus é maior que os teus problemas. Confia, tem esperança, vive com coragem. Não tenhas medo de amar, de entregar a tua vida na missão que Deus te confia, porque é o medo que nos paralisa, nos fecha aos outros e nos impede de viver. Acredita no amor e no poder de Deus. Ele, o nosso Deus é “Emanuel”, que quer dizer “Deus connosco”. Ele está connosco, sempre e em todas as situações. Ele está comigo e contigo, hoje e sempre.

Que a figura de José nos interpele e questione neste tempo de Advento. “Ele é o homem a quem Deus envolve nos seus planos – planos que, provavelmente, lhe parecem misteriosos e inacessíveis – mas que tudo aceita, numa obediência total a Deus”. Sou capaz de sintonizar-me também eu com a vontade de Deus a meu respeito, tal como ele fez? Sou capaz de acolher os projetos de Deus – mesmo quando eles desorganizam os meus projetos pessoais – com a mesma disponibilidade de José, na obediência total àquilo que Deus me propõe?
Que este Natal nos faça mais atentos aos sinais de Deus que nos interpela continuamente. Que o presépio e, dentro dele, as figuras de Maria, de José e de Jesus nos interpelem e nos ensinem como viver neste mundo e nesta hora.
Daqui a dias é Natal. Não fiquemos parados. Ponhamo-nos a caminho e vamos até Belém. Não encontraremos um Deus triunfante e glorioso, mas um menino frágil e pequeno. Procuremos o rosto de Jesus no rosto amedrontado dos oprimidos, na solidão dos infelizes, na amargura de tanta gente, onde Jesus continua a nascer e a viver em fragilidade.

Darci Vilarinho