Liturgia do 4º Domingo da Quaresma – Ano C

Deus é mesmo assim

Jos 5, 9-12; 2 Cor 5, 17-21; Lc 15, 1-32

Na parábola que a Igreja nos propõe para o 4º Domingo da Quaresma (ano C), Jesus não apresenta o nosso Deus como rei, senhor ou juiz, mas como um Pai incrivelmente bom. Respeita as decisões dos seus filhos. Aceita que um deles saia de casa, mas não o esquece. Espera a toda a hora o seu retorno. E quando volta, não está a recriminá-lo, a fazer-lhe perguntas: Porquê? Onde? Para quê? Não lhe impõe nenhum castigo. Nunca deixou de o amar. Agora há que fazer festa. Esquecer o seu passado. Limpar a sua sujidade. Entregar-lhe um vestido novo e um anel de marca familiar. Há que oferecer a todos um banquete de festa em sua honra pelo reencontro em família.

Deus é mesmo assim. Deixa que livremente façamos as nossas escolhas, por mais duras ou escravizantes que sejam, mas depois, com amor e solicitude, fica à espera que voltemos ao calor da casa que deixámos. Não para nos acusar ou julgar, mas para nos restituir a dignidade de filhos. O nosso Deus é assim: bom, clemente e misericordioso. É um Pai que abraça e acolhe sem apontar o dedo a ninguém. Quando é que o mundo O descobrirá deste jeito?
Se porventura, algum dia, nos desgarrarmos da família divina na qual, por amor, estamos inseridos, oxalá saibamos descobrir o rosto deste Pai extraordinário, sempre de braços abertos a acolher-nos e a fazer-nos festa.

Esta é uma história que se repete, porque é a história da humanidade inteira e de cada um de nós. Esbanjamos tanta coisa em liberdades mal interpretadas. Queremos a nossa autonomia. Não aceitamos que Deus entre nas nossas escolhas ou decisões. Penso que todos nós, sendo pecadores, temos necessidade de meditar sobre esta parábola. Por detrás da nossa exigência asfixiante de nos sentirmos livres de todas as pessoas e de todas as coisas, ao fim e ao cabo tornamo-nos escravos de nós mesmos, do nosso egoísmo, das nossas ideias, dos nossos projetos, donde não sabemos como sair, uma vez que o egoísmo é o caminho para a nossa própria destruição. Fomos criados para a comunhão. Fomos feitos para viver em família. Fora dela sentimo-nos infelizes.
A verdadeira perspetiva de felicidade, de vida e de alegria para um cristão é aquela que nos é proposta na carta de S. Paulo aos coríntios da Liturgia deste Domingo: “Irmãos: Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado. Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. (…) Nós vos pedimos, em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus”.

Para quando esta reconciliação? Para quando o regresso à casa do amor misericordioso, onde nos espera o Pai no calor da sua Casa, desejoso de fazer festa e de dar um sentido novo à nossa vida?
É este o Deus de Jesus Cristo que como Igreja temos que descobrir. E é esse Deus que, como Igreja, temos de apresentar e testemunhar para que outros O descubram e amem. Um Deus de coração grande, que não exclui ninguém da sua casa, mas que acolhe os filhos perdidos e lhes oferece o seu perdão gratuito e incondicional. Nenhuma teologia, pregação ou catequese pode esquecer esta parábola.

Darci Vilarinho