Liturgia do 3º Domingo Comum – Ano C

23 de janeiro 2022
Ne 8, 2-10; 1Cor 12, 12-30; Lc 1, 1-4; 4, 14-21

 

À procura dos excluídos
Começamos neste 3º Domingo a ler o Evangelho de São Lucas que nos acompanhará ao longo de todo o ano litúrgico. É no capítulo quarto que Jesus nos apresenta o seu programa evangelizador. Jesus, voltando do deserto, não vai para Jerusalém, isto é, para o centro do poder. Vai para a Galileia, que é a periferia, onde moram os pobres e onde a opressão é maior. É da periferia e não do centro que Jesus faz irromper o seu projeto na história humana. Jesus vai à sinagoga em dia de Sábado, que para os Judeus é dia de repouso, de festa e de oração.
Neste 3º domingo comum que o Papa Francisco nos pediu para dedicar de um modo especial à PALAVRA é curioso notar que de acordo com o evangelista Lucas Jesus é apresentado como a Palavra, o VERBO enviado pelo Pai.
Na sinagoga Jesus faz a segunda leitura, porque a primeira era do Pentateuco e não podia ser mudada. No decorrer de um ano eram lidos todos os cinco primeiros livros da Bíblia. A segunda leitura era livre. Jesus escolheu o texto de Isaías 61,1-4. Depois da leitura, todos ficaram a olhar para Jesus para ver qual a interpretação que ele iria dar ao texto. Jesus diz: “Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura”. Ou seja, Jesus como enviado do Pai, assumiu o compromisso de viver e levar por diante o projeto preanunciado pelo Profeta Isaías, que consistia em “anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a libertação dos presos, dar a vista aos cegos e a liberdade aos oprimidos, e proclamar um ano favorável da parte do Senhor”. São os pobres e os oprimidos, os presos e os cegos os destinatários privilegiados de Jesus.

 

“O Espírito do Senhor está sobre mim. Ele me ungiu e consagrou”. Jesus sente-se “ungido” pelo Espírito de Deus, impregnado pela sua força. É Ele a Palavra por excelência, dirigida a todos. També a nós seus seguidores chamados “cristãos” porque como Ele somos “Ungidos”, consagrados. Para São Lucas é uma contradição chamar-se “cristão” e viver sem esse Espírito de Jesus. Como enviado do Pai, Jesus apresenta assim a sua missão para que todos possam entender melhor o Espírito que o anima, as preocupações que traz no seu coração e a tarefa missionária a que se dedicará de corpo e alma: semear liberdade, luz e graça de Deus junto de todos aqueles que mais sofrem.

 

O evangelho de São Lucas é profundamente missionário – Já por aqui se vê, mas vê-lo-emos ainda melhor ao longo de todo o ano litúrgico. Num mundo perdido, a escorregar para o abismo, ele apresenta a misericórdia de um Deus que no Filho se faz solidário com cada pessoa. Jesus é alguém que perde a sua vida para que ninguém se perca. O Pai manda o Filho para encontrar todos os irmãos extraviados. A missionariedade em São Lucas exprime-se geograficamente no “caminho para Jerusalém”. A sua missão é a do bom samaritano que carrega sobre os ombros toda a exclusão. Por isso o seu caminho passa necessariamente pela pobreza e pela humilhação do Filho do homem que se entrega nas mãos dos homens.

 

Mas este programa evangelizador não é só de Jesus. É o programa missionário da Igreja, isto é, de Jesus e do seu corpo. É o nosso programa. Se não somos um corpo que bate com o mesmo coração de Cristo. Se não amamos como Ele e não nos compadecemos dos pobres, oprimidos, miseráveis ou excluídos de cada tempo e lugar, quer dizer que ainda não assumimos os nossos compromissos. Ainda estamos a tempo.

 

Darci Vilarinho