Liturgia do 32º Domingo Comum – Ano C

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Sementes de eternidade

2 Mac 7, 1-14; 2 Tes 2, 16-3, 5; Lc 20, 27-38

“Vale a pena morrer às mãos dos homens quando se espera que Deus nos ressuscite”. Foi assim que falou um dos sete irmãos Macabeus da primeira leitura deste Domingo. E foi assim que milhares de mártires souberam responder a quem lhes tirou a vida. A ressurreição futura já a vivemos agora, quando acolhemos a Palavra de Deus e o Corpo do Senhor que são sementes de eternidade. Admiramos a coragem destes sete irmãos Macabeus, que afrontaram a morte para não mancharem a própria fé. Admiramos os milhares de mártires que ao longo da história professaram a fé no Deus dos vivos. Juntemos-lhes tantos missionários que não recusaram oferecer as suas vidas em sacrifício. Recordá-los neste mês de Todos os Santos é para nós estímulo de fidelidade e garantia de santidade.

Depois da festa de Todos os Santos e a comemoração dos Fiéis defuntos, a liturgia deste Domingo propõe-nos mais uma vez o mistério da vida para além da morte. Apesar de ser para nós um mistério escondido, o destino eterno da alma esteve sempre presente na reflexão dos homens. Testemunham-no, embora de modo diverso, todas as culturas e civilizações, tantas obras de arte esculpidas ou pintadas nos túmulos, e os poemas de muitos povos. “Nunca morrerei totalmente”, já dizia o escritor latino Horácio.
A ressurreição de Jesus abriu para os seus discípulos a perspetiva de uma vida eterna junto de Deus, com um corpo transfigurado e luminoso à semelhança do Seu. Esta fé deu coragem aos mártires na sua adesão a Cristo Jesus. Pouco depois do ano 100, Santo Inácio de Antioquia, condenado à morte pela autoridade civil, afirmava com plena convicção: “Quando chegar lá (à vida eterna), então é que serei plenamente homem”. E continuava: “É belo morrer em Jesus Cristo. Procuro aquele que morreu por nós. O meu renascimento está próximo. Não me impeçais de viver para sempre”.

“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque todos vivem para Ele”, proclama Jesus no Evangelho. Creio no Deus dos vivos, se vivo a minha fé numa procura irrequieta do seu rosto. Creio num Deus vivo, se me alimento da sua Palavra, se recebo o pão da Eucaristia, se anuncio o seu amor a quem dele precisar, repetindo no mundo os gestos de Jesus. Há muitos que estão convencidos de que a vida se resume aos 70 ou 80 anos que vivemos neste mundo. Constrói-se então a existência tendo em conta apenas os valores deste mundo, sem um horizonte futuro.

Para a fé cristã a esperança da ressurreição é uma certeza absoluta. Porque Cristo ressuscitou, quem se identificar com Ele, com Ele nascerá para a vida nova e definitiva. Não temos aqui morada permanente. Caminhamos em direção a uma nova realidade, numa outra dimensão. Esta certeza, baseada na fé, influencia, desde já, a nossa existência terrena, as nossas opções, os nossos valores, as nossas atitudes. É esta certeza que nos dá a coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo e de colocar toda a nossa esperança n’Aquele que vive para sempre. Foi Ele quem nos mandou anunciar estas verdades. Por isso S. Paulo, na carta deste Domingo, pede aos Tessalonicenses: “Orai por nós para que a Palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós”. Também este é um compromisso missionário, uma tarefa e uma responsabilidade de toda a comunidade. Rezar para que todo o Evangelho – incluindo a verdade da ressurreição dos mortos – seja pregado, testemunhado e acolhido.

Darci Vilarinho