Ex 22, 20-26; 1 Tes 1, 5-10; Mt 22, 34-40
“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua inteligência e com todas as tuas forças, e amarás o próximo como a ti mesmo”, lê-se num texto de São Mateus que é proclamado neste domingo. É o programa de vida de todo e qualquer cristão, e portanto de todo e qualquer missionário. Não há coisa mais valiosa no mundo. O homem, nosso próximo, é o nosso caminho para Deus. O amor não se fica pelos desejos. Pede provas e sinais: na difusão do amor de Deus entre os homens, na dedicação às tarefas do bem comum, na promoção e elevação das pessoas. Foi esta a missão e a paixão de Jesus e pode ser também a nossa.
O amor é o verdadeiro motor da missão. É o único critério pelo qual tudo deve ser feito. É o princípio que deve orientar cada ação, e o fim para o qual devemos tender. Nas palavras do Papa emérito Bento XVI, “ser missionário significa debruçar-se, como o bom Samaritano, sobre as adversidades de todos, de forma especial dos mais pobres e necessitados, porque quem ama com o Coração de Cristo não busca o seu próprio interesse, mas unicamente a glória do Pai e o bem do próximo. Aqui está o segredo da fecundidade apostólica da ação missionária, que ultrapassa as fronteiras e as culturas, alcança os povos e se espalha até aos extremos confins do mundo”.
Testemunho exemplar – Apraz-me a tal respeito citar o testemunho admirável da irmã Irene Stefani, que foi recentemente beatificada e cuja memória litúrgica se celebra no dia 31 de outubro. Foi uma missionária da Consolata que durante a primeira guerra mundial, com heroica abnegação prestou serviço em vários hospitais militares, na África. Todos se assemelhavam pelas condições precárias de trabalho: escassez de meios, ausência de pessoal qualificado, aglomeração excessiva e caótica de doentes por causa das constantes epidemias.
Conta um seu biógrafo que, nos fins de fevereiro de 1917, a equipa missionária formada pelo padre Bento, a irmã Cristina e a irmã Irene, foi enviada para o acampamento hospitalar de Kilwa, na Tanzânia, onde a desordem era completa e os doentes pessimamente assistidos. Mal acolhidas pela direção e pelos enfermeiros, as Irmãs sentiam-se bloqueadas no seu serviço, porque não podiam dispor nem de alimentos nem de remédios, rigidamente conservados em lugar fechado à mercê dos guardas.
Bloqueadas? Mas quem bloqueia a caridade? Ela é como um rio caudaloso, diz a Escritura, e nada pode travar o amor. Foi o que aconteceu com a irmã Irene. Não tendo nada para oferecer aos seus doentes ofereceu-se a si mesma, assistindo com todo o amor os mais graves, os mais nojentos e descuidados. Porque a água era racionada e o calor excedia os 45º, os doentes morriam à sede. Cedia então a água que lhe cabia aos que mais precisavam. Depois, caminhando ao sol abrasador, de tigela na mão, ia suplicar ao armazenista um pouco mais desse precioso líquido. A sua atitude humilde desarmava os guardas mais carrancudos, que lhe enchiam a vasilha e se comoviam perante os seus agradecimentos.
A sua caridade, paciência e amabilidade tocavam os corações dos doentes e dos enfermeiros. A estes não os repreendia pelo descuido ou dureza no serviço. Mostrava com o exemplo como se amam as pessoas. Sem impor nada a ninguém, o ambiente transformou-se. O próprio médico, impressionado pelos seus gestos a favor dos doentes, perguntava a si mesmo se, para agir assim, essa mulher não era uma louca ou uma criatura do outro mundo. Talvez fosse um anjo revestido de carne humana! Opinião que coincidia com a de outro médico protestante, que dizia: “Aquela não é uma mulher. É a caridade personificada”. Morrerá alguns anos mais tarde com 39 anos de idade, contagiada pelos doentes de peste que serviu até ao fim. O povo chamava-a “Nyatha”, quer dizer “cheia de misericórdia”. São assim os santos. A Igreja reconheceu publicamente a sua santidade, beatificando-a no mês de maio de 2015, em Nyeri, Quénia, onde está sepultada.
Darci Vilarinho