Liturgia do 2º Domingo do Advento – Ano C

Uma voz no deserto

Bar 5, 1-9; Fl 1, 4-11; Lc 3, 1-6

João Baptista domina este período de preparação para o Natal. Para acolher o Messias, ele pedia uma profunda mudança de vida a todos os que acorriam à sua pregação. Não prega em Jerusalém como Isaías ou outros profetas. Não está ligado à elite do templo. Não é profeta da corte. A sua voz ecoa no deserto, onde nenhum poder deste mundo pode controlar. João é livre de anunciar o que lhe vai na alma. “Preparai o caminho do Senhor”, proclama este enviado de Deus.
Apregoa um batismo de conversão e imerge os seus discípulos no rio Jordão em vista do perdão dos pecados. Não perdoa os pecados, mas prepara os corações para o perdão. Vai chegar aquele que perdoa. Vai chegar a divina misericórdia, incarnada em Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
Já chegou, e se calhar ainda não nos apercebemos da sua presença no meio de nós. Vamos abrir os olhos, vamos desbravar o nosso terreno para que uma vida nova possa nascer em nós, como fruto da nossa conversão.

Precisamos que a palavra de João Baptista ecoe de novo no deserto do nosso mundo para limpar a indiferença e o egoísmo, e tudo aquilo que sufoca a procura dos verdadeiros valores. Que ela contribua para aplanar caminhos tortos do nosso mundo e encher os nossos vales com o anúncio da tolerância, da confiança e do perdão. São para todos nós as palavras do Baptista. Toda a Igreja precisa de ouvir a sua voz para se colocar em estado de conversão.

“Produzi frutos que mostrem a vossa conversão”. Pelo batismo fomos enxertados na árvore de Cristo, tornando-nos participantes da sua vida e da sua missão. Por Ele e nele ficámos assim habilitados a prestar culto a Deus, a anunciar o seu Reino, a ler os sinais dos tempos e a entender o curso da história humana, de que Ele é chave. Quanto mais vida recebermos desta árvore divina, mais frutos produziremos. Que a magia divina do Natal que se aproxima mude o nosso coração e nos habilite a continuar a missão de Cristo sobre a terra.

Que caminhos andamos a trilhar? João não aponta o caminho das estradas romanas. Também não aponta o caminho do templo. Aponta o caminho para Jesus. Mais uma vez neste Advento nos pede a liturgia que procuremos os caminhos do Senhor. Encontrando-os, poderemos trilhá-los primeiro nós para depois os ensinarmos a quem não os conhece e anda perdido nos meandros desta vida. Os seus caminhos passam pelo amor de Deus e pela solidariedade entre os homens. Passam pela oração e pelo sacrifício. Passam pela renovação e pela esperança. São caminhos que João Baptista aponta e que Jesus testemunhará. Que a luz de Cristo ilumine os nossos passos.

Vem aí o Salvador. Também este ano. Também neste dia. Que devemos fazer? Abrir-lhe a porta, escutar a sua voz e acolher o programa de vida que nos traz. É uma vida nova que Ele quer recriar em nós.
Não haverá porventura em mim e em ti áreas da vida a evangelizar, a converter, a endireitar? Que a minha e a tua vida sejam terreno sagrado da passagem do Senhor para nele nos renovarmos e com Ele renovarmos o mundo.

Darci Vilarinho