Liturgia do 2º Domingo Comum – Ano C

16 de janeiro de 2022
Is 62, 1-5; 1Cor 12, 4-11; Jo 2, 1-11

 

“Fazei tudo o que Ele vos disser”
A narrativa das bodas de Caná que a Liturgia do 2º Domingo Comum (Ano C) nos apresenta é o mistério no qual Jesus, graças à intervenção da Mãe, realiza o primeiro dos seus “sinais”, convertendo a água em vinho. Ele manifesta, assim, a sua glória, de forma que os discípulos acreditaram nele. Vamos por partes.

 

1. “Estava lá a Mãe de Jesus” – Tinha de estar. Começava a Igreja a lançar os fundamentos da fé. Por isso, tinha de estar lá a Mãe da Igreja, como esteve em Belém e estará no Calvário. Começa Maria a sua missão de intercessora. E também Ela aparece como “sinal”. É apenas a “mulher”, colaboradora de Cristo na obra da redenção para refazer a obra que outra mulher destruiu. A palavra “mulher”, com a qual Jesus se dirige à Mãe nas “horas” solenes e que assinalam o início e o cume da manifestação terrena da sua glória, ilumina-se, então, em toda a sua vastidão e profundidade, revelando plenamente o projeto de Deus para ela e para o mundo.

 

2. “Fazei aquilo que Ele vos disser” – A figura de Maria sobressai, como a deseja Jesus: inteiramente voltada para Ele, vivendo unicamente para Ele. De facto, são suas as palavras plenas de confiança e de esperança. Em Caná, Maria apresenta-se na veste da primeira discípula que crê, como verdadeira imagem e modelo dos seguidores de Jesus. Endereçando-os para Ele, também os dispõe a deixar-se penetrar pela sua palavra, a fim de se tornarem, tal como ela, instrumentos de salvação. Maria, a mãe de Jesus e a mãe dos seus discípulos, a Mãe da Igreja.

 

3. “Não têm vinho”. – São palavras que manifestam a solicitude materna de Maria para com as necessidades da humanidade; com uma atitude discreta, mas corajosa e confiante, Ela dirige-se, sem demora, a seu Filho e Senhor, a fim de interceder por quem mais precisa. As suas palavras revelam o seu amor de mãe a um nível ainda mais profundo. Parecem encerrar a imploração de Israel que aguarda a realização das promessas messiânicas, simbolizadas na imagem bíblica da abundância de vinho. O vinho, que falta em Caná torna-se símbolo da antiga lei que já não basta porque, com Jesus, chegou o tempo da redenção definitiva.
Maria é consciente de tudo isso e faz a Jesus esse pedido, a fim de que o vinho das bodas – que é a plenitude da revelação trazida por Ele – escorra copiosamente e para que aquela festa do amor humano se torne lugar no qual se manifesta o amor divino. As talhas vazias tornam-se fontes de um vinho novo.
Qual é o vinho que nos falta hoje como pessoas e como famílias para que a nossa vida possa ser verdadeiramente uma festa? Socialmente ou missionariamente falando, que poderá significar esse “não têm vinho”? O que é que falta no mundo para que se torne um lugar em que haja vida em abundância?

 

4. “Água transformada em vinho” – A obra de Cristo é transformar. A graça da fé e da esperança muda sabores e rostos, transforma dores e aparências. O vinho novo é o antecipado convite para o banquete eucarístico. É o Espírito Santo que será enviado para transformar as nossas vidas, dando-lhes os traços e o sabor de Cristo. Que há em mim a precisar de transformação? Só me transformo se, escutando a Palavra, obedeço.

 

Darci Vilarinho