17 de outubro de 2021
Is 53, 2.10-11; Heb 4, 14-16; Mc 10, 35-45
Deus vem até nós como um servo
1. Jesus está a caminho de Jerusalém e, aos discípulos cada vez mais assustados, ele conta pela terceira vez o que lhe vai acontecer quando chegar à cidade santa.
Jesus sabe que vai enfrentar hostilidades, luta, abandono e morte. Em contraste com este terceiro anúncio da sua paixão, os apóstolos estão convencidos de que ganharão honra e prestígio. Os apóstolos estavam longe de entender quem era Jesus e o que Ele ensinava. Não entendem o discurso da paixão, mas apesar de tudo, há neles uma grande disponibilidade em querer seguir o Mestre, que os vai modelando pouco a pouco à sua imagem.
“Que quereis eu faça por vós?”, pergunta Jesus à interpelação de João e Tiago. Que bom! O sonho de Deus é fazer-nos felizes, é poder fazer alguma coisa por nós. O problema é que muitas vezes pedimos coisas que não prestam.
Humanamente esses dois discípulos procuram aproveitar a sua proximidade para apresentar a Jesus um pedido, no mínimo arrogante: “Nós queremos que tu nos faças o que te vamos pedir”. E Jesus responde: “Mas vós não sabeis o que estais a pedir”. Os dois irmãos, como adolescentes caprichosos, exigem, querem que Jesus se comporte como eles desejam, procuram dobrar Jesus às suas vontades. No nosso relacionamento com Deus, poderá acontecer o mesmo.
2. Ao longo da sua vida, Jesus tentou sempre converter a mentalidade dos seus discípulos, porque Deus não cumpre as nossas expectativas, mas as suas promessas.
Neste episódio, os dois apóstolos realmente causam má impressão. Mas ninguém está isento desta lógica de poder: até as nossas comunidades podem tornar-se lugares de competição para os primeiros lugares.
De facto, os outros dez apóstolos ouviram a conversa e, cheios de ciúmes, mostram-se indignados, porque unidos pela mesma ambição e competição para serem os primeiros.
É então que Jesus, com muita paciência se aproxima deles e abre-lhes um outro caminho, uma sua alternativa: não deve ser assim entre vós. Os grandes da terra dominam os outros, impõem-se, acham que se governa pela força…, mas entre vós não deve ser assim!
3. Eis a grande revolução trazida por Jesus: “Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos”. É o programa de vida de Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir. É um projeto que Jesus nos propõe. Somos chamados a ser servos não porque valemos pouco, mas porque esse é o lugar que Jesus escolheu para nos revelar o rosto do Pai. Só do último lugar, do fundo da fila é que podemos ver as coisas como Deus as vê.
Atenção: este apelo é dirigido a todos! Mas sobretudo àqueles que têm funções de responsabilidade (clérigos e leigos). Acredito que todos nós conhecemos pessoas extraordinárias que, com paixão e dedicação, gastam tempo e energias por causa do Evangelho. Mas também encontramos quem busca consensos, reconhecimento, visibilidade, glória mundana.
Jesus veio “não para ser servido, mas para servir e dar a vida”. Acho que é a mais bela definição de Deus, Deus veio e continua a vir como um servo, como meu servo para me dar vida. É bom saber que a minha vida é o seu trabalho. É verdade que o homem foi criado para servir a Deus, mas é também verdade que Deus que existe para amar e servir o homem. Ele não pede ao homem que se ajoelhe a seus pés, mas é Ele quem se enrola numa toalha e lava os pés fedorentos de cada pessoa. Deus acaricia e envolve ternamente as feridas de cada pessoa. O seu trono não está nas alturas do céu, mas aqui na terra. Ele é o Crucificado que dá a vida por cada um de nós para que também nós nos tornemos, como Ele, servos dos outros, a começar pelos mais marginalizados.
Darci Vilarinho