Liturgia do 29º Domingo Comum – Ano A

A Deus o que é de Deus

Is 45, 1.4-6; 1 Tes 1, 1-5; Mt 22, 15-21

A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre as realidades de Deus e as realidades do mundo. Diz-nos que, se Deus é a nossa prioridade, não devemos todavia alhear-nos dos nossos compromissos na construção do mundo.
O homem pertence a Deus, mas não pode deixar de cumprir as suas obrigações com a comunidade humana. “ Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

O homem não pode nem deve alhear-se das suas obrigações para com a comunidade humana. Deve ser um cidadão exemplar e contribuir para o bem comum. No entanto, é importante e fundamental que o homem reconheça a Deus como o seu único senhor. Se as moedas romanas têm a imagem de César, que sejam dadas a César. Mas o homem, dentro do seu coração, não tem inscrita a imagem de César, mas a imagem de Deus, como se lê no Livro do Génesis: “Deus disse: ‘façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança’… Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus”.

Jesus não quer entrar no debate político. Não está em causa o pagar ou não pagar os impostos. A questão é de outro nível muito mais profundo. O homem pertence a Deus e transporta consigo a imagem do seu Senhor e Criador. Se pertence a Deus deve entregar toda a sua existência nas suas mãos. É Deus que dá sentido a toda a sua vida. Só a Deus se deve adoração e culto. Nem o Estado ou outra qualquer entidade deste mundo podem usurpar o que só a Deus pertence. O martírio é a expressão suprema da resistência cristã perante as tentativas de usurpar o lugar de Deus. A César pertencem coisas, as moedas. A Deus pertence a pessoa com todo o seu coração, a sua mente e as suas forças.
Trago em mim a imagem de Deus. Por isso a Ele me devo restituir, vivendo com integridade para não sujar essa imagem. Essa integridade que me é pedida exige que eu seja também cidadão exemplar, que cumpra as minhas responsabilidades e que colabore ativamente na construção da sociedade humana.

Jesus diz-nos que não só é preciso marcar as fronteiras entre Deus e César, mas que é preciso DAR. Dar a César o que é de César, justiça, paz, direitos, respeito, é algo de grande e importante. Mas César não é Deus. César pode ser a pátria temporal, mas não é a pátria definitiva. Dar só a César sem dar a Deus é a ruína do homem, porque marca uma separação na profundidade do seu ser. O homem só o é na sua plenitude, se dá a Deus o que lhe é devido. O secularismo europeu define-se precisamente porque se pretende dar a César sem minimamente reconhecer o lugar de Deus.

Celebra-se hoje o Dia Missionário Mundial. Dia de oração, reflexão e solidariedade missionária. Diz o Papa Francisco na sua mensagem para este dia que a “missão está no coração da fé da Igreja”. E acrescenta: “Através duma espiritualidade missionária profunda vivida dia-a-dia e dum esforço constante de formação e animação missionária, envolvam-se adolescentes, jovens, adultos, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas, bispos para que, em cada um, cresça um coração missionário” que leve as comunidades cristãs a “participar, com a oração, com o testemunho da vida e com a comunhão dos bens, na resposta às graves e vastas necessidades da evangelização”.

Darci Vilarinho