Liturgia do 28º Domingo Comum – Ano C

9 de outubro 2022
2Reis 5, 14-17; 2Tim 2, 8-13; Lc 17, 11-19

 

Dar Glória a Deus
1. “Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? Segue o teu caminho: a tua fé te salvou”.
O Evangelho do 28º Domingo Comum apresenta-nos um grupo de leprosos que saem das suas tocas para se encontrarem com Jesus e que em Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. É um episódio exclusivo de São Lucas: Jesus é o Deus que se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.

 

2. “O Senhor manifestou a salvação a todos os povos”, reza-se no salmo responsorial. O número dez tem um significado simbólico, porque significa a totalidade. O judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, para que a oração comunitária pudesse ter lugar, precisamente porque o número dez representa a totalidade da comunidade. Mas a presença de um samaritano no grupo indica que essa não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas a todos os homens, sem exceção, incluindo aqueles que a lei marginalizava, como era o caso dos leprosos. Deviam viver longe da sociedade para não contaminarem ninguém.

 

3. A proposta de salvação que Jesus trouxe é para todos os homens e mulheres, sem exceção. É uma proposta inclusiva. «O nosso Deus não é um Deus dos “bonzinhos”, dos bem-comportados, dos brancos, dos politicamente corretos ou dos que têm o nome no livro de registos da paróquia… O nosso Deus é o Deus que oferece a vida a todos e que a todos ama como filhos; o que é decisivo é aceitar a sua oferta de salvação e acolher o seu dom».
O texto pode ser então uma interpelação sobre o modo como lidamos com os leprosos dos nossos dias: os sem-abrigo, os drogados, as pessoas com deficiência, os doentes terminais, os idosos, os analfabetos, os que vivem abaixo do limiar da pobreza, os imigrantes, os que não têm telemóvel nem internet nem dinheiro para comprarem roupas de marca ou frequentar festas sociais. São a marginalidade e a exclusão dos nossos tempos. São aqueles que Deus prefere. E eu?

 

4. Jesus cura os dez leprosos, mas só um regressa para dizer “obrigado”. É um estrangeiro, um samaritano. De algum modo, é também um excluído. Os outros nove ficam presos pela lei. Basta-lhes o reconhecimento dos sacerdotes, tal como a lei exigia. O estrangeiro sente-se livre. Reconhece o dom recebido e não tem outra preocupação senão voltar atrás e prostrar-se diante daquele que lhe concedeu essa graça. Reconhece que a sua cura é dom gratuito da bondade de Deus. Entra numa relação plena com Deus. O ato central, fonte e cume da vida cristã, é a Eucaristia, que significa “ação de graças”. Quem dera que a nossa participação dominical na Eucaristia nos ensinasse que tudo na nossa vida é dom do amor de Deus e não uma conquista nossa ou a recompensa pelos nossos méritos ou pelas nossas boas obras. E que a oração de “agradecimento” é a mais simples e a mais bela, pois até uma criança é capaz de a fazer.
Senhor, que neste dia santo cada irmão possa glorificar-te pelo dom da fé e a Igreja inteira seja testemunha da tua salvação.

 

Darci Vilarinho