Liturgia do 1º Domingo de Advento – Ano B

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Deixar-se moldar

Is 63, 16-19; 64, 1-7; 1Cor 1, 3-9; Mc 13, 33-37

Com o 1º Domingo de Advento iniciamos mais um ano litúrgico, guiados pela Palavra do Evangelho de S. Marcos. É uma ocasião única para nos deixarmos moldar pelas mãos do nosso Pai amoroso, que quer fazer de nós uma obra-prima do seu amor. Com a liturgia, proclamamos neste Domingo: “Tu, Senhor, és o nosso Pai; nós somos a argila e Tu aquele que lhe dá forma, porque todos somos obra das tuas mãos” (Is 64, 7)
A belíssima imagem do oleiro, usada não só por Isaías, mas também por Jeremias, é facilmente compreensível. Diz-se e é verdade que “não existe arte sem amor, quadro sem pintor e vaso sem oleiro”. Nós somos o fruto do amor infinito de Deus, somos o quadro original que ele pintou e somos o vaso que ele quer moldar a seu jeito. Só Ele sabe a forma que devemos tomar para sermos uma imagem sua, sopro do seu Espírito. O ano litúrgico será feito de pequenas pinceladas que Deus vai fazendo na nossa vida para melhorar a nossa imagem, por dentro e por fora.

É o oleiro que dá forma à argila – Deus conhece, melhor do que nós mesmos, aquilo de que precisamos para tornar bela e eficaz a obra que realizou em nós. É Ele que nos convida a abandonar-nos totalmente nas suas mãos. Tenhamos uma grande confiança que Ele cuidará de nós e nos dará em cada momento o que é melhor para o nosso crescimento. Ele retirará do nosso caminho o que nos é nocivo e dar-nos-á o que nos falta. O barro não se molda a si mesmo. Precisa de se confiar às mãos, aos sonhos, à sensibilidade, à delicadeza e até à firmeza do oleiro para que surja uma obra útil e bela. “Nós somos a argila e Tu, Senhor, aquele que lhe dá forma”. Nem o barro se pode rebelar contra o oleiro, mas cabe-lhe sujeitar-se humildemente à sua vontade.

É o oleiro que lhe dá beleza – A peça de barro é modelada, desenhada, pintada e levada ao forno. Cada um de nós é uma obra de arte do nosso Deus. Sou feitura de Deus. Sou poema que Ele compôs, sou a menina dos seus olhos. Deus não só me criou, mas também me vai modelando cada dia e transformando na imagem de seu Filho Jesus. A glória de Deus é que sejamos verdadeiramente belos, porque somos a sua morada. Temos a marca das suas mãos estampada em nós.

É o oleiro que lhe dá utilidade – Um vaso tem sempre utilidade. Foi moldado para ser usado com um desígnio. Para ser útil precisa de estar limpo e sem fraturas. Não há ser humano que não seja útil e que não tenha o seu papel dentro dos desígnios de Deus. Não somos criados em série. Cada um de nós é único, dotado de linhas, cores e formas próprias e distintas de qualquer outro. Cada um de nós é vaso singular. Mas porque é de barro, é frágil e pode quebrar-se, mesmo aí o oleiro pode refazer o seu vaso. Deus não deita fora o vaso que por fragilidade se danificou. Ele é capaz de refazer a sua obra. “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?” (Jr 18.6). Deus não desiste da sua obra. Dá-nos sempre uma nova oportunidade para recomeçar.

Para ser um vaso novo – Deus é capaz de fazer de nós um vaso novo, mesmo que o processo exija dor e sacrifício, mesmo que seja preciso levá-lo de novo ao forno para o tornar mais sólido. Mas é preciso entregar-nos nas suas mãos e ser dóceis à sua vontade. Sendo assim, aqui vai uma proposta para este novo ano litúrgico e em particular para este Advento: Deixar-se moldar para ser um vaso novo, tal como diz a linda canção: Eu quero ser, Senhor, amado como o barro do oleiro. Rompe-me a vida, faz-me de novo, eu quero ser um vaso novo.

Darci Vilarinho