Gen 9, 8-15; 1 Pe 3, 18-22; Mc 1, 12-15
Vou entrar no espírito desta Quaresma, agarrando-me ao essencial, eliminando da minha vida o que não presta e crescendo por dentro à medida de Cristo, Homem Novo, princípio de humanidade renovada. Vou procurar conhecê-lo melhor. Vou tomar consciência da necessidade de mudança na minha vida à luz da Palavra de Jesus: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”. O Espírito que O guiou no seu jejum preparatório e em toda a sua obra de evangelização nos guie também a nós no caminho de conversão. Sugiro dois caminhos cruzados, que certamente nos poderão aproximar de Deus e uns dos outros.
O primeiro: um caminho de renovação pessoal. Ninguém duvida que na nossa vida há coisas a modificar. Cada meta que pretendemos atingir exige disciplina e rigor, sacrifício e suor. Também na vida do cristão. São Paulo fala-nos do homem velho (Ef 4, 22) que é necessário podar, para que a árvore da nossa vida não seja um arbusto inútil, mas produza frutos saborosos. Quer isto dizer que temos de morrer em cada dia para renascer com Ele.
Quem de nós não tem defeitos ou vícios a extirpar? E quase todos têm repercussão nos outros. Mas é preferível mirar ao positivo. A maior penitência que Deus nos pede em cada dia é a de amarmos pacientemente cada próximo, levando os pesos uns dos outros, mantendo-nos sempre em unidade com todos, dispondo-nos sempre a compreender, a perdoar e a recomeçar. A caridade traz alegria, mas também conhece o peso, a fadiga, o sofrimento e a paciência, porque é impossível amar os irmãos sem carregarmos as suas dificuldades. Sofrer com quem sofre, como dizia São Paulo.
E aqui fica a sugestão de um caminho direito que aproxima de Deus e de cada pessoa. Fomos indelicados para com alguém? Ofendemo-lo ou julgámo-lo mal? Remediemos logo desdobrando-nos em sincera doçura e amabilidade, falando bem dele ou mesmo defendendo-o, se for preciso. Comemos exageradamente, esbanjando o que poderia fazer falta aos outros? Na refeição seguinte façamos o contrário. Rezámos sem atenção? Recolhamo-nos num momento de oração profunda. E assim por diante. Aos olhos de Deus não conta tanto o negativo anterior quanto este ato positivo que me pôs em relação com alguém. É uma ginástica maravilhosa que nos faz constantemente morrer para renascer.
O segundo caminho é oferecer, numa linha missionária, os meus préstimos em favor dos outros. Como? Certamente, invocando junto de Deus o perdão e a reconciliação para os filhos da Igreja e para a humanidade inteira, mas, sobretudo, reacendendo a nossa caridade com a prática das obras de misericórdia. A Igreja convida-nos a todos – ricos ou pobres – a atualizar o amor de Cristo através de generosas obras de caridade. Há cada vez mais situações de fome, de abandono, de violência e de injustiça no nosso mundo. Há novas escravidões e pobrezas que afetam muita gente e que não podem deixar-nos insensíveis e indiferentes. O Papa Francisco diz-nos que no mar da indiferença da sociedade em geral perante o que se passa no mundo, cada um de nós deve procurar ser diferente estendendo a mão a quem precisa. Deus nunca é indiferente a cada um de nós. Ama-nos, cuida de nós como um pai ou uma mãe amorosos. É assim que devemos proceder na relação com os outros.
Darci Vilarinho