Liturgia do 14º Domingo Comum – Ano B

Profetas por vocação

Ez 2, 2-5; 2 Cor 12, 7-10; Mc 6, 1-6

1. No Evangelho deste domingo, Jesus vai à sua terra, mas não é bem acolhido. “Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes”, disse Jesus, admirando-se da falta de fé dos seus conterrâneos. Nenhum profeta é bem-vindo em sua casa. Porque não é fácil aceitar que um carpinteiro vulgar, operário sem estudos e sem cultura, fora do magistério oficial, pretenda falar como profeta. Escandaliza a humanidade de Deus, a sua proximidade. Mas é esta precisamente a boa nova do Evangelho: que Deus se encarna, entra na nossa normalidade de cada dia, abraça a imperfeição do nosso mundo. Também Jesus conheceu plenamente a amargura da contestação, na sua pátria, entre o seu povo, da rejeição da sua palavra, até à crucificação. Ele que é mais do que profeta, é o Filho de Deus, enviado ao mundo para assumir a nossa humanidade e nos ensinar o caminho para o encontro com Deus, dando a vida por nós.


2. Não é profeta quem quer, mas só aquele que for chamado
. Isto quer dizer que na origem e no centro da vocação profética está Deus. Não são as suas ações ou qualidades que lhe dão o direito a ser profeta. A iniciativa é de Deus que, de forma gratuita, escolhe, chama e envia em missão.
Na vocação cristã há sempre aqueles que excelem em ações de serviço e de amor à humanidade. São aqueles que não se preocupam por transmitir uma mensagem pessoal ou aquilo que as pessoas gostariam de ouvir, mas, com coragem e frontalidade testemunham fielmente as propostas de Deus para os homens do nosso tempo.


3. É um sério compromisso
 – Como instrumento através do qual Deus age no meio da comunidade humana, o profeta tem consciência que a missão que lhe foi confiada é para levar muito a sério. O seu testemunho é um compromisso que deve ser assumido e vivido com fidelidade absoluta e total empenho. Ser profeta é tornar presente no meio dos homens os projetos de Deus. Se é de Deus que parte a sua missão, não a pode utilizar em benefício próprio nem pactuar com os poderes deste mundo ou procurar os aplausos das multidões. A sua missão profética tem de estar sempre ao serviço de Deus, dos planos de Deus, da verdade de Deus, e não ao serviço de esquemas pessoais, interesseiros e egoístas.


4. Homem de olhar penetrante
 – O profeta é, no dizer da Bíblia, “o homem de olhar penetrante, que escuta as palavras de Deus, que tem a visão do Omnipotente, que se prostra, mas de olhos abertos” (Num. 24, 3-4). Ele é antes de mais um contemplativo e um orante, que procura penetrar no mistério de Deus, para conhecer a Sua vontade e anunciá-la aos homens do nosso tempo. Mas, de olhos bem abertos, é por outro lado um conhecedor das situações e problemáticas humanas, que continuamente procura iluminar com a Palavra de Deus. Imbuído do Espírito de Deus, ele anuncia e denuncia. Anuncia a Palavra como proposta de Deus, denuncia o divórcio entre fé e vida e aponta os caminhos da reconciliação e da paz com Deus e com os homens. Com um ouvido Ele ouve as Palavras do Senhor, com o outro ele sabe escutar os gritos do seu povo. É um intermediário entre Deus e os homens. Por eles intercede e aponta caminhos novos de entendimento e de promoção.


5.
 Pessoas como o Santo Óscar Romero, dom Pedro Casaldáliga, dom Hélder Câmara,  Santa Madre Teresa de Calcutá ou São João Paulo II, ou o Papa Francisco, só para citar alguns nomes, encaixam nesta reflexão. São profetas do nosso tempo, pessoas esclarecidas e apaixonadas por Deus e pela humanidade. Mas todos nós, no nosso meio, fiéis à nossa vocação cristã, e de olhos bem abertos, podemos sê-lo também: para unir o que anda afastado, para mediar o que anda desavindo, para promover a justiça e a paz.

Darci Vilarinho