“Mais uma vez, à distância de poucos dias, a nossa família é provada com a partida de um outro nosso coirmão. Mais um missionário que nos deixa, que com a sua partida nos recorda que nesta vida somos peregrinos. Façamos tesouro dos seus exemplos de vida e rezemos por ele. Logo que tiver noticias do seu funeral, comunicarei”. Foi esta a mensagem enviada aos missionários da Consolata em Portugal, no final da noite deste sábado, 2 de fevereiro, pelo superior regional padre Eugénio Butti, anunciando a morte do padre Adelino, apenas duas semanas após a morte do padre Herculano Neves da Silva.
Missionário da Consolata exemplar e dedicado, o padre Adelino viveu grande parte da sua vida missionária em Moçambique (1974-2013), em situações muito difíceis nos tempos conturbados da revolução e da guerra civil, tendo sido raptado pela Renamo em 1982 na Missão de Muvamba.
Trabalhou sobretudo na diocese de Inhambane, nas missões de Mapinhane, Muvamba, Massinga, Guiúa e Nova Mambone. Trabalhou também alguns anos na arquidiocese de Maputo, nas paróquias da Machava, Liqueleva e no noviciado dos Missionários da Consolata de Laulane.
Os últimos anos foram vividos no sofrimento causado pela doença que o foi consumindo até às últimas forças, mantendo sempre a lucidez e demonstrando um espírito de fé exemplar.
Rezemos pela sua alma para que Deus lhe dê o eterno descanso.
O corpo do padre Adelino vai ficar em câmara ardente a partir do meio da tarde deste domingo na capela do Seminário da Consolata, em Fátima. Pelas 15h00 desta segunda-feira, 4 de fevereiro, vai ser ali celebrada a Missa de corpo presente. Segue-se, depois, o cortejo fúnebre para o cemitério de Fátima. Aos sacerdotes e diáconos pede-se que levem alba e estola (de cor roxa).
Breve biografia do percurso missionário do padre Adelino da Conceição Francisco (1941–2019)
Missionário da Consolata português. Nasceu em São Simão de Litém, Pombal (Portugal), a 9 de novembro de 1941. Entrou no Instituto Missionários da Consolata (IMC) em 16 de outubro de 1956, emitiu a primeira profissão religiosa a 2 de outubro de 1963 e foi ordenado sacerdote em 29 de março de 1969. Os primeiros anos do seu sacerdócio foram vividos em Portugal, no trabalho de animação missionária e vocacional em Fátima.
O desejo de partir para a missão batia forte no seu coração. É destinado a Moçambique onde chega no 17 de outubro de 1974. Começou por trabalhar na diocese de Inhambane em 13 de novembro de 1974 como coadjutor na missão de Mapinhane. Celebrou a independência nacional em 25 de junho de 1975, em festa com o povo moçambicano. Sofreu com ele as penas dos excessos da revolução e a violência da guerra. Dedicou-se com empenho no estudo da cultura e língua do povo Tshwa de Inhambane, da qual se tornou conhecedor e falante.
A 1 de abril de 1976 foi nomeado superior da missão de Muvamba. Foi raptado nesta missão no dia 16 de setembro de 1982 com toda a equipa missionária, sendo libertado alguns meses depois no Zimbabwe depois de ter percorrido centenas de quilómetros a pé no meio de perigos e privações.
Foi pároco de Massinga-Muvamba-Funhalouro (1983–1986) em plena guerra civil. Em 1986 é destinado à paróquia da Machava, na arquidiocese de Maputo, onde trabalha na pastoral e na formação no seminário da Consolata instalado na paróquia da Machava e é também pároco da paróquia de Liqueleva (1986–1991).
A 9 de outubro de 1991 foi transferido para a diocese de Inhambane e é nomeado pároco de Massinga-Muvamba-Funhalouro. Em 1999 foi transferido para Maputo como vice-mestre no noviciado dos Missionários da Consolata em Laulane.
Em fevereiro de 2005 regressa à diocese de Inhambane e é colocado como vigário paroquial na paróquia do Guiúa. A 2 de maio de 2007 é nomeado vigário paroquial e em seguida pároco de Nova Mambone. Em 2010 regressa ao noviciado de Laulane. Em janeiro de 2013 regressa definitivamente a Portugal por motivos de saúde.
Já em Portugal, permaneceu na Casa Regional do IMC, em Lisboa, até maio de 2018. Devido ao agravamento das suas condições de saúde e à necessidade de cuidados médicos continuados, ficou internado por um tempo na Casa de Saúde da Idanha, das Irmãs Hospitaleiras, e os últimos meses da sua vida viveu-os na Residência Sénior Domus Mater Dei, da Congregação das Religiosas Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, em Fátima, até a data do seu falecimento na noite de 2 de fevereiro de 2019, festa litúrgica da Apresentação do Senhor.
Albino Brás / Diamantino Antunes