Envolver de Luz os filhos e as filhas amados por Deus

Leia a Mensagem de Natal do padre Stefano Camerlengo, superior geral dos Missionários da Consolata

ENVOLVER DE LUZ OS FILHOS E AS FILHAS AMADOS POR DEUS

“Jesus o sol de justiça, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte.” (Lc 1, 78-79)

“Devemos amar o Menino Santo por si mesmo. Ele desceu do céu e encarnou-se por nós, por cada um de nós e para a nossa salvação. Meditemos profundamente este “excesso” de amor de Jesus, e assim, também nós O amaremos. Peçamos a Deus com insistência este amor, repetindo com o próprio S. Agostinho: “Senhor, faz com que eu te ame!” (Beato José Allamano)

“Algumas sugestões para uma prenda de Natal: ao teu inimigo, perdoa; ao teu adversário, oferece tolerância; a um amigo, oferece o coração; a cada pessoa, acolhimento; doa a todos a caridade; a cada criança, dá o bom exemplo; aos idosos escuta-os; a ti mesmo, oferece respeito” (Oren Arnold)

 

Caríssimos Missionários e Missionárias, Familiares e Parentes, Amigos e Benfeitores, Pessoas de boa vontade;

Não sei se este é um período de tempo para podermos ser otimistas e confiantes num futuro à medida do homem; eu sou e a Estrela de Natal dá-me essa certeza.

O inverno social e eclesial ainda não está atrás das nossas costas, mas, são muitos os sinais que nos indicam que o tempo da primavera está próximo: os frutos futuros dependerão também de nós!

Por isso, a todos os que estão em caminho connosco, procurando a justiça para toda a humanidade, a liberdade, a tolerância, o respeito e a proteção da criação, faço votos para que dirijam o olhar para a gruta de Belém, onde um menino de nome Jesus, com o seu nascimento, transforma as trevas em luz e proclama a desejada paz para todos os homens de boa vontade.

O Natal é modelo para a missão, a missão é espelho do Natal. É surpresa de Deus. Mas o Natal é também uma sinfonia incompleta. As suas notas ainda não chegaram a todos os povos, a demonstrar e a confirmar que o empenho missionário nunca mais acaba. Nasceu para todos, mas ainda não chegou a todos. Ele, aquele Menino que os anjos no céu de Belém anunciam aos pastores como o Salvador de todos. “Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos deitado numa manjedoura” (Lc. 2, 12). Anjos, seres misteriosos feitos de luz, revelam o prodígio, na escuridão de uma noite, há séculos esperada. As suas palavras acordam os pastores adormecidos, um cântico de alegria faz brilhar as estrelas que espreitavam do alto: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens amados por Deus” (Lc. 2, 14). O rio do céu transbordou e inundou a terra de alegria.

O coração daquele facto explica-o o evangelista João: “o Verbo era Deus, todas as coisas foram feitas por ele, vida para todos os homens e luz que resplandece nas trevas, o verbo fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1, 1-18).

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; Deus herói, Pai-eterno, Príncipe da paz” (Isaías 9,1).

O Deus longínquo tornou-se próximo, o Deus escondido manifestou-se e torna-se cidadão do mundo, inscrito no registo civil do Império Romano. É a mais bela surpresa de Deus à humanidade.

Os homens imploravam a salvação, em vez disso apareceu um Salvador, pediam compreensão e apareceu a Partilha. A maravilha, o espanto do Natal é contemplar um Deus que nem sequer parece Deus. É um menino pobre, faminto, com frio, necessitado de tudo. É um menino nascido como prófugo, num estábulo.

O Deus que se revela na gruta de Belém, é um Deus que irrompe na história e faz limpeza de todos os nossos esquemas e as nossas esperanças.O primeiro choro de Jesus marca um novo início, uma mudança de rumo imparável, uma novidade absoluta destinada a mudar para sempre o respiro do universo.

Deus entra no mundo do ponto mais baixo, de uma gruta, de um curral. Deus começa da periferia, dos últimos da fila, dos excluídos, daqueles que não contam nada para o mundo. Não está ninguém excluído. Esta é a boa nova pela qual vale a pena, mais uma vez, celebrar o Natal.

Neste Natal a Igreja faz próprio o convite de S. Agostinho a cada homem: “Ó homem submerso no gelo da noite, vem daí, caminha também tu até Belém, vai ao encontro do Menino e da sua Mãe, deixa-te envolver pela luz do Senhor”.

Em cada Natal revivemos o mistério de Deus que se faz carne, nascendo homem e menino.

Mas quais são as prerrogativas do nascer, o que é que antecipa o nascer, o que é que o torna possível?

Para que nasça qualquer coisa, primeiro é necessário criar um lugar, criar espaço, preparar o caminho e um abrigo, um cantinho de vida, um lugar a mais à mesa no caso que chegue alguém, para o que está para chegar.

A arrogância das palavras de quem nos quer fazer precipitar na barbárie, as palavras gritadas que têm o sabor do estar fechado, da prepotência, impedem que Jesus nasça, que venha… Ele está para chegar, tem a cor dos olhos do Sírio, do palestiniano, do iemenita, do africano… de todos os que têm sede de dignidade… e nós não estamos a preparar nenhum lugar, não abrimos as nossas portas e a nossa cidade, antes pelo contrário, reforçamos as “fortalezas” e fechamos as fronteiras.

Mas a estrela do Natal não se apaga, fixa-se exatamente lá onde os pobres e os pequenos do mundo reorganizam a esperança, onde alguém prepara um lugar, uma cadeira, um prato, uma cama para quem chega, está para vir e continuará a chegar.

Será para nós um Natal de portas abertas, de acolhimentos sinceros, de humanidade concreta e de vida que nasce?

Tentemos isso… porém juntos, cruzando as nossas diversidades ….

O Natal é uma boa nova, que, porém, nos empenha a uma missão “maior”: envolver de luz os filhos e as filhas amados por Deus, e, juntamente com eles procurar uma maneira humana de viver a comunidade, a sociedade, a economia, a política e a missão.

Que o Natal seja para nós uma ocasião, para refletir sobre a capacidade de nos livrarmos da prisão das necessidades e a possibilidade de nos darmos uma oportunidade para inaugurar, no pequeno e no grande, uma nova maneira de existir.

Desejo a todos e a cada um de vós: Feliz e bom Natal!

Coragem e avanti in Domino!

 

P. Stefano Camerlengo, superior geral dos Missionários da Consolata