João da Felícia tem 80 anos, é natural da Golpilheira (Batalha), está de férias em Portugal e no próximo dia 5 de outubro estará de volta ao Brasil, com muitos projetos. «Gostava de contribuir para a construção de faculdades para que os jovens brasileiros não tivessem de abandonar as suas terras para prosseguirem os estudos, queria fazer mais poços artesianos porque a água falta e gostava de criar um projeto para a remodelação de capelas.»
Os projetos do português são ambiciosos, e a sua visita a Portugal é também uma ocasião para celebrar tudo o que tem feito ao longo de 50 anos como sacerdote missionário da Consolata. «Este serviço valeu a pena, vale a pena e vai continuar a valer a pena a minha doação. Foram já muitas as privações e as dificuldades, mas há aqui coisas impagáveis. Estou feliz. Nunca pensei chegar aos 50 anos de padre e aos 80 anos de vida. Foram 50 anos só de coisas boas», realçou o missionário, que se poderia julgar brasileiro antendendo à sua pronúncia e expressões.
O sacerdote partiu pela primeira vez em missão para o Brasil, em 1974. O local de missão seguinte foi Portugal, onde esteve 12 anos, e depois voltou novamente ao Brasil. «Vou continuar a evangelizar. Vou agora feliz para uma nova paróquia brasileira. Vou com sonhos e com expetativas muito grandes, quase como quando fui para o meu primeiro país de missão: Moçambique. No Brasil vou agora trabalhar com um missionário da Consolata queniano. Será um jovem e um velho, mas acho que ainda poderemos trabalhar muito bem», disse a sorrir.
João da Felícia passou por várias regiões brasileiras, muito distintas entre si, onde se envolveu com a população e acompanhou pessoas da sua infância até à sua juventude. Contudo, lamenta as problemáticas que atualmente se fazem sentir. «Neste momento eu vejo lá a classe riquíssima, a média, a pobre e uma classe miserável, que está a aumentar. É um país riquíssimo, que tem tudo para dar certo, mas que infelizmente, neste momento, ainda não está a dar certo. Não dá certo porque muitos roubam, porque a política é enganosa, porque ela é camuflada de liberdade, mas não existe a liberdade total, a democracia é um nome e não uma realidade e a cultura ainda não é para todos.»
É neste contexto que o missionário procura fazer a diferença, tal como tentou fazer em Moçambique, o seu primeiro país de missão, onde esteve cinco anos. «Fui de Turim (Itália), uma cidade muito rica e desenvolvida onde estive em formação, para Moçambique, onde tudo era muito simples e os recursos eram poucos. Como o asfalto não existia, por vezes o carro fica emperrado nos trajetos que fazíamos. Nessas alturas dormia-se e esperava-se que o socorro chegasse no outro dia», recordou o sacerdote, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA.
Do povo com quem contactou, o missionário conserva uma profunda admiração. «Aprendi a viver sem nada. A Tribo Macua, com quem lidei, era capaz de ficar um dia inteiro, sentada, a escutar. Era um povo bom de coração, simples», lembra João. Estes e outros marcos da vida do missionário vão ser celebrados com uma Eucaristia presidida pelo próprio, no próximo domingo, 24 de setembro.
A celebração que vai assinalar as suas bodas de ouro de ordenação sacerdotal terá início pelas 09h30, na Igreja da Golpilheira, a que se vai seguir uma tarde de convívio, na companhia de familiares e amigos do missionário. «Vou agradecer a Deus e ao povo que me acompanhou com orações e ajudas materiais. Vai reunir-se muita gente boa, que tem um carinho especial por mim e que são orgulhosos por terem um padre», disse. Àqueles que possam pensar em dedicar a sua vida aos outros, o missionário deixa um apelo: «Convido os jovens a não terem medo, porque a recompensa e o bem-estar são grandes e bem maiores do que a tristeza».
Texto Juliana Batista
Foto Ana Paula