A Consolata nas calamidades

A Virgem Consolata foi invocada em tempos de peste e, agora, de pandemia

A Virgem Consolata, ao longo da história, muitas vezes foi invocada para vir em socorro do povo da cidade de Turim, Itália: em tempos de guerra, de calamidades e doenças, como a peste.
Também nesta pandemia do coronavírus ela foi logo invocada para vir em socorro da cidade e de toda a humanidade.

PESTE
Logo depois da peste de Milão nos anos 1576-1577, São Carlos Borromeu, no dia 7 de outubro de 1578 começa uma peregrinação a pé até à cidade de Turim para pedir proteção diante do Santo Sudário e aos pés da Virgem Consolata.
Mas é sobretudo à Consolata, que o povo de Turim recorre pedindo socorro e ajuda. No começo de agosto de 1835 chega o “cólera-morbus”. O arcebispo Luigi Fransoni convida o povo a confiar no Santo Sudário e na Consolata, e no dia 30 de agosto de 1835 a municipalidade faz uma promessa (voto) para obter de Deus “ser livres do cólera, a diminuição do mal ou outra ajuda que Deus quisesse conceder à cidade”. No dia 3 de setembro o arcebispo recebe a promessa, e no mês de dezembro a infeção termina.
No dia 20 de junho de 1837, festa da Padroeira, é inaugurada com a bênção, ao canto da “Ave Maris Stella” e ao som dos sinos, a coluna de granito com a estátua em mármore da Consolata ao lado do Santuário.

CORONAVÍRUS
Em tempos de coronavírus, o arcebispo de Turim, Monsenhor Césare Nosiglia, pede socorro à Consolata na tarde do domingo, 15 de março de 2020, rezando uma oração na qual lhe confia o povo e a situação que a humanidade está vivendo. Reza em nome de todos os fiéis à padroeira da diocese e da cidade, pedindo a intercessão dela.
“Virgem Consolata e Consoladora“, reza uma das invocações da súplica, “colocamos nas tuas mãos a difícil situação que não somente a cidade de Turim, mas a Itália toda e o mundo inteiro estão atravessando. Muitas famílias passam dificuldade e muitos andam na escuridão sem perspetivas para o futuro. Pedimos-te pelos pobres, os sem abrigo, os estrangeiros e os refugiados políticos. De maneira particular hoje te confiamos os doentes e as pessoas atribuladas no corpo e no espírito das nossas famílias e dos nossos hospitais, junto aos médicos e agentes de saúde, aos educadores e agentes sociais. Acompanha a todos com a tua presença materna, a fim de que a experiência da dor não escureça o sustento da fé“.
Ao recorrer o arcebispo à Consolata, o reitor Monsenhor Giacomo Martinacci, que salientou o significado deste momento disse: “a peregrinação do bispo se coloca numa tradição de séculos que viu constantemente o Pastor e os fiéis virem em oração nesta Casa de Maria para confiar-lhe as sortes comuns, sobretudo quando Turim foi afligida por epidemias e guerras. Quem chega à Consolata não pode não ver na praça a coluna com a estátua de Maria: é uma das memórias visíveis da promessa que a cidade fez em 1835 na ocasião da epidemia do cólera morbus”.
A partir do sábado, 18 de abril, também em tempo de pandemia, não foi deixada uma tradição importante para o Santuário, aquela dos “Nove Sábados da Consolata”. Uma prática começada pelo Bem-aventurado José Allamano desde o ano 1899, para preparar na oração semanal a festa da padroeira. Mesmo na impossibilidade de chegar até o Santuário para rezar – disse o Reitor -, “esta prática pode encontrar espaço na oração do povo também através das transmissões diretas do site do Santuário, www.laconsolata.org, que constantemente coloca no ar o que acontece no altar do Santuário”. Esta oração, neste ano, responde também à exortação do Papa Francisco, que no mês de março tinha convidado os piemonteses a rezar à Consolata.

REZANDO O TERÇO
Acolhendo também o convite do papa a todos os fiéis de rezar o terço no mês de maio, também o santuário ofereceu esta possibilidade de rezar juntos com o reitor no santuário, através dos diretos streaming.
Mais de uma vez, o Papa Francisco nomeou a Consolata neste tempo de pandemia.
Numa entrevista, falando o dialeto piemontês dos seus avôs, lembrou uma poesia à Consolata, do poeta Nino Costa, que reza assim: “Ó Padroeira da nossa antiga raça, ampara-me, até que a morte me tome: como a água de um rio a vida passa, mas você, Senhora, você permanece”.
No memorável encontro de oração e adoração que papa Francisco fez na frente da Basílica de São Pedro, na tarde do dia 27 de março de 2020, uma das súplicas litânicas pedia também a consolação do Senhor que sempre chega até nós com aquela de Maria.
Na segunda oração a Nossa Senhora proposta pelo papa para o mês de maio, mais uma vez Maria é invocada com o título de Consoladora dos aflitos.
“Ó Maria, Consoladora dos aflitos, abraçai todos os vossos filhos atribulados e alcançai-nos a graça que Deus intervenha com a sua mão omnipotente para nos libertar desta terrível epidemia, de modo que a vida possa retomar com serenidade o seu curso normal”.
Não há dúvida que neste tempo especial, a Consolata, além de ser aquela que é invocada pela saúde física de cada um, é também a mãe que quer que cuidemos também da saúde espiritual. Como Ela, talvez aprendemos a refletir um pouco mais na Palavra de Deus nas nossas casas e famílias tornando o nosso lar um lugar da presença de Deus como a Casa de Nazaré. Aprendemos a adorar o Senhor Jesus na nossa vida, no nosso coração e no nosso meio.
Consolar, significa também servir.
Agradeçamos todos aqueles que neste tempo de pandemia se colocaram a serviço dos outros, curando e consolando perante as aflições que muitos passaram e ainda estão a passar.
Não podemos recomeçar a nossa vida depois deste tempo de pandemia como antes, mas temos que viver as lições que aprendemos, começando com uma vida mais respeitosa de uns para com os outros, de mais humildade e confiança em Deus. Como sempre a Mãe e, para nós a Consolata, é mestra em tudo isso.

* Michelangelo Piovano, imc, é missionário na Itália.