2º Domingo da Quaresma – Ano A

Subiu ao monte para orar

Gen 12, 1-4; 2Tim 1, 8-10; Mat 17, 1-9

Diz-nos o Evangelho de S. Mateus deste 2º Domingo da Quaresma: “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-se diante deles”. S. Lucas diz que Jesus subiu com eles “ao monte para orar”. Como é significativo o comportamento de Jesus que se retira frequentemente para o monte a rezar, arrastando consigo os seus amigos a fim de os associar ao seu caminho. É o seu e o nosso caminho interior que vai da Galileia a Jerusalém. Jesus não gosta de caminhar sozinho, não é um herói solitário. Liga o seu destino a um grupo de pessoas frágeis e limitadas que ele quer transformar. É o encontro com Deus que transforma a vida.

Contemplar –  é o primeiro verbo desta cena – “O seu rosto ficou resplandecente como o sol…”. Jesus transfigura-se durante a oração. A oração verdadeira muda as pessoas. Contemplar transforma a pessoa. O homem torna-se naquilo que contempla com os olhos do coração. Torna-se naquilo que ama e naquilo que reza. Deus, que é luz imensa, derrama-a continuamente sobre nós na sua Palavra, no Pão e no Vinho, no seu Amor.
Sobe também tu ao monte Tabor, pondo de lado as tuas coisas, os teus afazeres, sempre tão importantes, para te ocupares daquilo que é essencial na tua vida: o encontro com Deus. O que deverias fazer na normalidade da tua vida fá-lo sobretudo agora, neste tempo que o Senhor te oferece para conheceres melhor os seus dons.
A Transfiguração é a meta do meu peregrinar. Os gestos de conversão e de solidariedade, de renúncia ou de jejum, que eu realizar durante este tempo, servirão para me tornar mais livre a fim de contemplar o Mestre que me chama mais para o alto. O cristianismo, mais do que religião da penitência ou da mortificação, é sobretudo a religião do Tabor que nos permite subir com Jesus até ao Gólgota, onde se transfigura e fecunda a nossa dor. Sobe para o alto e Deus te iluminará.

Escutar – É o segundo verbo desta cena do Evangelho. “Este é meu Filho muito amado, escutai-o”. Quem escuta Jesus torna-se como Ele. Escutá-lo quer dizer ser transformados por Ele. A sua Palavra chama, faz existir, cura, muda o coração, faz florescer a vida, dá beleza e ilumina a nossa noite. A fé judaico-cristã, antes de ser a fé da visão, é a fé da escuta. Escutar é uma palavra-chave na Escritura: encontramo-la 1100 vezes no Antigo Testamento e 445 no Novo. É procurar e acolher a luz de Deus para os nossos problemas pessoais ou comunitários para os aprendermos a gerir à luz da sua vontade. É interpelar a Deus sobre os nossos deveres e sobre os seus planos a nosso respeito. “Fala, Senhor, que o teu servo escuta!”.

Testemunhar – é o terceiro verbo desta cena – Na comunhão com os irmãos. “Como é bom, Senhor, estarmos aqui!…”, diz Pedro a Jesus. É bom, mas não suficiente. Os Apóstolos são convidados por Jesus a descer do monte. O que viram, contemplaram e assimilaram não é para consumo próprio, mas deve ser testemunhado aos outros através das obras de evangelização e de caridade efetiva, escutando o grito dos irmãos. Se o mundo pagão ou descrente se impressiona com o nosso rosto transfigurado, fala mais alto o testemunho da nossa vida. As pessoas não ligam tanto ao modo como ouvimos a Deus, mas como ouvimos e socorremos os nossos irmãos. Oração é indissociável da missão. É bem verdade que, como dizia o grande teólogo Bonhoeffer, “uma pessoa que não é capaz de entrar em solidão com Deus não é capaz de comunhão com os irmãos”. E vice-versa: “Quem não é capaz de fazer comunhão com os outros não é capaz de solidão com Deus”. Quanto mais rezarmos, mais sentido de Igreja teremos. Mais nos tornaremos corpo de Cristo que reza em nós pelo mundo inteiro. Quanto mais me alimentar de Cristo na contemplação, mais vontade hei de ter de comunhão com os outros, distribuindo os seus sentimentos de amor, de perdão, de mansidão e de misericórdia. A oração conduz sempre à vida, mas de um modo renovado. É para a vida ordinária de cada dia que somos convidados a levar a luz, a graça, a força do encontro que tivemos com o Senhor. Da contemplação à comunhão.

Darci Vilarinho